Lux Restaurant

Assim que sai do Uber, reparei que o restaurante que ele tinha escolhido era bastante elegante e, por isso, a roupa que eu tinha escolhido até era adequada. - Reserva em nome de Kenneth Brooks - fui dirigida até uma mesa a um canto reservado do restaurante e quando o empregado se aproximou com o menu, acabei por pedir uma garrafa de vinho tinto, um que eu sabia que ambos gostávamos e optei por deixar o jantar até que ele chegasse. Meia hora. Uma hora. Duas horas depois da hora combinada e ele não aparecia e não me dizia nada. - É a conta, por favor - pedi e acabei por deixar uma gorjeta choruda para a empregada que tinha sido bastante prestável.

Engoli em seco quando o concierge se ofereceu para me chamar um taxi mas acabei por negar, pois precisava de apanhar. Agradeci e acabei por sair sem qualquer direção, apenas precisava de sentir o ar frio na cara para impedir que as lágrimas caissem. Ser deixada no dia de aniversário, havia alguma coisa pior?

- Não devias andar por aqui sozinha - assim que ouvi aquela voz tão familiar nas minhas costas, todo o meu corpo se arrepiou e acabei paralizada no meio da rua, tentada a começar a correr

- Christian - tentei soar feliz por o ver - Já não te via a algum tempo - sorri e comecei a andar novamente, dando passos lentos.

- Desde que o teu namoradinho me tentou partir o braço - engoli em seco, tentando conter o pânico perante o seu tom de voz

- O Kenneth não é meu namorado, eu estou sozinha - tentei apaziguar a situação e quando me tentei afastar mais ele agarrou.me pelo braço - Christian o que estás a fazer ?

- Como tinha dito, não devias andar por aqui sozinha - A sua mao apertava o meu braço cada vez com mais força

- Eu não estou sozinha, estou a espera de um Uber - a minha cara deve ter dado sinais de dor porque ele voltou a apertar.me o braço - Estás a magoar.me - avisei.o, tentando afastar.me - Onde é que pensas que me vais levar - tentei soltar.me quando ele me começou a puxar para um beco escuro - Christian, eu grito. Eu juro que grito - avisei enquanto puxava na direção oposta a sua - SOC... - comecei a gritar mas acabei por levar uma chapada ou um soco porque senti o meu cerebro chocalhar, deixando.me zonza.

- Eu sabia que irias estar aqui sozinha e desta vez o teu namoradinho não te vai poder salvar - o seu tom de voz era raivoso, de alguem que tinha nojo e maldade dentro de si - Agora vais ver o que é bom para ti. És minha Hope, sempre foste e sempre serás e eu vou garantir.me disso agora

- Christian para, eu sei que tu nao queres fazer isto - tentei apelar ao bom senso, sentindo o vinho subir.me a boca. Chorei quando o senti morder.me o pescolo, tentando afasta.lo novamente, esmurrando o seu peito e pontapeando

- Hope nao digas que nao queres, quando eu sei que queres. Nao sejas uma cabra, fica.te mal. Eu ainda me lembro como tu adoravas quando estavamos juntos.

- Eu odeio.te, eu nunca senti nada quando estava contigo. Tu metes.me nojo. NOJO - gritei na sua cara, engasgando.me num soluço

- Se sentes nojo, ve la se tambem sentes isto - senti.o penetrar.me, fazendo com que arregalasse os olhos, vendos pontos pretos e brancos na minha visao. Era melhor que desmaiasse do que passar por isto

Os meus sentidos estavam todos alerta. Aquelas ruas estavam estranhamente calmas, com um ou dois pedestres a passar de vez em quando. Tanto quanto eu sabia, Hope podia nem estar aqui. As hipóteses variavam e eu não queria ponderar nenhuma mas tinha de ser: podia ter sido raptada, podia ter sido levada para um destes prédios de tijoleira...Algo se passava e não podia ser bom. Só não podia ser pior. Se alguém lhe metesse as mãos em cima nem sabia o que faria. Tinha de me despachar e encontrá-la se ela estivesse ali. Observei cada esquina e cada beco. Segui um ruído longínquo mas que era o melhor que tinha de momento. O observador normal não teria distinguido as duas figuras bem no extremo de um beco escuro e praticamente sem iluminação. Mas eu não era um observador normal. Levei um segundo a captar a cena, dois segundos a perceber que se tratava de Hope. Quedei-me mortificado. A minha visão turvou e eu deixei de raciocinar. O meu instinto assumiu controlo  e avancei iradamente contra quem quer que estivesse em cima dela, quem a estava a poluir, que a estava a...violar. Agarrei o cabrão pelas costas e atirei-o com força contra a parede oposta tal era a minha raiva. Queria matá-lo. Ia matá-lo. Os meus punhos atacaram a sua face sem piedade e só passados uns instantes me apercebi que aquela cara ensaguentada era de Christian - Vou matar-te filho da puta - Falava a sério. Desviei por um segundo o meu olhar para trás onde Hope ainda estava junto à parede.  Hope. Mas afinal o idiota ainda arranjou energia para agarrar numa pedra e arremetê-la contra a minha cabeça. Atordoou-me. Senti o sabor do sangue na minha boca, mas mantive-me cosciente. Quanto muito só estava ainda mais furioso.

Vi uma sombra aproximar.se de mim, o que fez que me encolhesse de novo para a parede - Por favor, nao - pedi enquanto escondia a cara nas maos, afastando.me o mais que conseguia. Senti uma camada de roupa em cima de mim e, instintivamente, tapei.me de imediato. Eu conhecia aquele cheiro, o cheiro tão distinto a cigarros e mentol e um pouco de colonia masculina. Fazia.me lembrar o Kenneth. Eu não queria ficar ali nem mais um minuto, sentia.me nojenta e pegajosa. Queria poder tirar aquilo do corpo para me poder sentir mais normal possivel. Comecei a gatinhar para me afastar, sentindo o conteudo do meu estomago subir.me a boca, acabando por vomitar o vinho que tinha bebido. Ao menos tinha sido so o vinho - Kenneth.. - chamei, sentindo as lagrimas começarem a correr novamente

Tapei melhor o meu corpo enquanto me dissolvia em tremores e choro. A ajuda vinha a caminho mas isso nao valia de nada agora, o mal ja estava feito. Tentei levantar.me e ir na sua direçao para me esconder no seu corpo, nao queria que ninguem me visse assim. Ouvi as sirenes a tocarem ao longe e isso so piorou o meu estado - Nao os deixes levarem.me - pedi

Escondi o rosto no seu peito quando ele me pegou, não querendo olhar para ninguém nem para o alarido que ali se estava a formar. Já na ambulância, os paramédicos continuavam a tentar examinar.me mas só de imaginar mais mãos em cima de mim, deixavam.me em pânico. Fomos para o hospital da zona, o Queen Charlotte's para poder ser examinada mas eu nao queria ser examinada. Não queria ser tocada por ninguém, só queria ir para casa e desaparecer