Queen Charlotte's Hospital

Chato era dizer pouco. O tempo que passava ali era enlouquecedor. Já que não andava só me restavam os pensamentos e esses não saíam do mesmo sítio - esta amnésia que me dilacerava.
Contudo não lhe disse nada disto pois não a queria preocupar. Ao invés sorri cordialmente e disse - Sim, quem sabe... Talvez seja bom falar com alguém que não seja do sexo feminino para variar - Pisquei-lhe o olho.
Senti uma pontada de nervosismo por ela ter de se ir embora. Todos os receios da noite anterior regressar am embora no íntimo soubesse que ela não me ia abandonar - Fico ansioso por isso - Contaria os minutos, literalmente. Não era como se tivesse algo melhor para fazer.
Então ela aproximou-se e fez algo que eu não esperava. Os nossos lábios tocaram. Castamente e apenas por um segundo. Mas foi tudo o que precisou para levar o meu corpo a sentir uma série de coisas. Não disse mais nada. Sorri e ela entretanto saiu sem dizer mais nada também. Que fora isto? Damn...
Estava ainda a pensar naquilo e também em como lidar com a ereção que ela me provocara quando o tal Mason apareceu. Pelos vistos estava designado para me obrigar a fazer exercícios para animar os meus músculos. Vamos apenas dizer não foi uma tarde agradável. Só queria voltar a ver America.

A obstetricia era bastante diferente da UCI, tudo muito mais calmo e colorido. Era quase como se fosse um trabalho relaxante estar ali a cuidar de grávidas, recem nascidos que apenas queriam era um bocadinho de colo para pararem de chorar. Claro que havia sempre os casos mais complicados das gravidezes de risco ou até mesmo um bebé doente mas era outro nivel de problemas. A tarde passou lentamente e quando finalmente estava despachada, estava a morrer de fome. Fui até as maquinas e comprei uns snacks e umas sandes para poder comer no quarto dele enquanto lhe fazia companhia. Bati a porta do quarto apenas por cortesia e sorri quando o vi olhar para mim esperançoso. Era como se eu fosse o raio de sol do seu dia e tinha chegado para o iluminar - Estou cheia de fome - disse enquanto me atirava para a cadeira e tirava a sandes que tinha comprado - Como foi a tua tarde ?

- Esse jantar é teu e é para ser todo comido - avisei.o, apontando.lhe a sandes - O meu turno foi calmo. Na obstetricia não há muitas urgências, passei maior parte do tempo a limpar bebés e a alimentar os que não tinham a mãe por perto e pronto - encolhi os ombros e levantei.me, indo.me sentar a beira da cama - E a tua tarde como foi ? Ficaste chateado ? Contente ? Na boa ? - perguntei com um sorriso tentando perceber se o seu humor tinha mudado ou sido influenciado de todo pela minha ação - Se quiseres posso.te ajudar - olhei para o prato. ele não precisava de ter vergonha se tivesse dificuldade em usar os seus braços. ele tinha passado muito tempo em coma e mesmo com a fisioterapia feita em pacients comatosos, as articulaçoes doiam sempre e ficavam "enferrujadas"

Fiz-lhe uma careta feia que nem uma criança a fazer birra. Ela que não me pedisse para comer aquela comida sem sal nem sabor nem sequer bom aspecto - Dêem-me um hambúrguer e serei feliz. Porquê que insistem tanto nesta imitação de comida saudável?  - resmunguei. Saber que ela tinha preenchido o seu dia a melhorar  a vida de outras pessoas fez-me ficar um pouco menos ressentido com o facto de já não  a poder ter para mim - Gostas de estar lá?  Aposto que com essa voz consegues acalmar qualquer bebé. .. - Ela e a sua voz angelical. - Foi só mais uma tarde. Já sabes qual a rotina... - Exercícios,  enfermeiros a cuscar as máquinas  e solidão na maior parte do tempo. Não consegui olhar para ela quando se ofereceu para me ajudar. Os meus braços era tudo o que conseguia mexer mas mesmo assim não tinha muito controlo sobre os mesmos. Conseguria comer mas não faria um grande chiqueiro sozinho - Obrigado,  mas não é preciso. Não tenho fome. 

- Eu não te posso dar um hamburguer, tens de começar devagar e aposto que não está assim tão má - sorri. Comida de hospital podia ser bastante má mas ele tinha que fazer um esforço, talvez amanhã trouxesse algo para ele comer sem que ninguém soubesse. Algo leve mas com mais sabor - Fazemos assim, se tu comeres isso tudo que te trouxeram amanhã eu trago.te uma surpresa - olhei para ele - uma surpresa boa - prometi. Obstetricia era um lugar interessante mas não era a minha área - Gostar, eu gosto mas quero fazer algo mais significativo que mudar fraldas e acalmar bebés. A minha voz não é nada de especial, uma voz como outra qualquer - ele não tinha respondido diretamente ao que eu tinha perguntado e também não perguntara porque eu o fizera. a curiosidade estava a matar.me. eu queria saber se ele tinha gostado

Fiz um barulho qualquer para me queixar do seu ponto de vista - Isto é mau de mais. É pastoso. Puré e... eu nem sei o que isto é  - O meu modo irritativo estava a aparecer novamente. Fitei-a com desconfiança - Se me disseres o que é.  

- Tu não fazes a mínima ideia, pois não? - Não havia ninguém mais tranquilizador do que ela. Não era só  a sua voz. A sua presença.  A sua beleza. - O que é que tu queres fazer? 

- É uma surpresa, se eu te contar o que é deixa de ser surpresa - ri.me - mas confia em mim. puré é bom e isso também, deve ser carne de frango passada ou assim. pensa que vai virar um hamburguer - pensei no que ele me tinha perguntado - quero fazer algo util, quero salvar vidas como fiz contigo. quero aprender algo mais, não sei qual a especialidade mas sei que quero mais - talvez fosse para oncologia ou ficasse nos cuidados intensivos, era algo que tinha de pensar - não faço minima ideia do que ? - perguntei confusa

- A minha memória voltou. Descobri que não gosto de surpresas - Disse de um modo sério para ver se ela caía no falso alarme - Salvaste-me. Há bebés que precisam de vir ao mundo. Há pessoas que precisam de ser curadas. As tuas possibilidades são infinitas, America. Podes fazer tudo. - Ela era capaz de tudo e mais alguma coisa. - Nada, nada... - Um pouco desastradamente segurei no garfo e fui recolhendo lentamente pedaços de puré no mesmo para comer. 

Arregalei os olhos, sorrindo abertamente - E o que é que te lembraste ? - perguntei. a sua memoria ter voltado era bastante importante - já chamaste algum médico ? já avisaste alguém sobre isso ? É que é importante dizeres aos médicos sobre a tua condição e estares a melhorar - estava tão emocionada - não posso fazer tudo tudo mas posso fazer tudo o que esteja ao meu alcance para ajudar os outros. tu dizes que te salvei mas foste tu que fizeste isso a ti, tu acordaste

Fuck. Já estava arrependido de ter dito aquilo pois nenhuma memória regressara e America estava agora toda iluminada e entusiasmada como uma criança na manhã de Natal. - Não me lembrei de quase nada. Nada útil.  - Informei, nada pronto para ver o seu ar desiludido. - Se acordei foi por causa de ti. És uma grande médica. 

- Eu não sou médica, eu sou enfermeira. A única coisa que fiz foi falar contigo, limpar.te e passar tempo no quarto. Não há nada de médico envolvido nisso, eu sei que depois tiveste a paragem e eu não desisti mas tirando isso, eu só falei contigo - encolhi os ombros - não importa, lembraste.te de algo. - sorri - já fizeste os teus exercicios de pernas e braço ? - perguntei enquanto pegava na sua ficha aos pes da cama. tudo na sua ficha dizia que ele estava bem e se a fisioterapia funcionasse, ele iria para casa em pouco tempo

Abanei a cabeca - Devias ser médica.  Já fazes mais do que ser apenas  enfermeira. - Ela dava o litro. - Nem tudo se cura com medicamentos,  Mer - Certamente não foram esses químicos que me tinham despertado. - O novo enfermeiro encarregou-se disso.

- Eu não tive média para medicina. Eu não tinha nota suficiente para entrar então fui por enfermagem - pousei a ficha e aproximei.me da cama - O Mason ? e como foi ? Tiveste muitas dores ? Ele fez bem os exercicios ? Aqueceu os musculos primeiro e depois é que fez e no fim fez a massagem relaxante ? - fui enchendo.o de perguntas. tudo tinha de dar certo com ele - tu não podes ficar dorido, tens de fazer os exercicios todos os dias e ele tem de fazer a massagem relaxante, ele fez ?

- E se voltasses a fazer as provas? America, não podes deixar que uns números te impeçam de ser aquilo que queres ser - Ela fora feita para ser médica.  

- Wow,  calma - Mason não tinha as mãos nem o jeite de America mas não podia dizer que ele fizera um mau trabalho - Ele não é tu mas é decente. 

- Eu já estou quase a acabar. Eu.. não tenho dinheiro para começar tudo de novo mas não importa, eu gosto de ser enfermeira - sorri, acariciando o seu braço - eu so quero que corra tudo bem, tudo tem de correr bem e se as coisas forem mal feitas não correm bem e tu tens de ficar bem - respirei fundo - queres que faça a massagem agora, como ontem te fiz na mão ?

Se pudesse dar-lhe-ia a oportunidade de conseguir seguir o curso que ela queria. - Não precisas de te preocupar tanto comigo - Mas era o mesmo que estar a falar para a parede - Adoraria mas tu tens coisas para estudar.

- Eu não tenho nada aqui comigo. só tenho comida e a minha roupa, por isso posso.te fazer todas as massagens do mundo - sorri - preferes na mao ou no pe ? - perguntei enquanto arregaçava as mangas - claro que tenho de me preocupar contigo, eu quero preocupar.me contigo, eu tou sempre preocupada contigo

Afastei o tabuleiro da cama porque sabia que ele não ia comer mais e levantei.me - afasta.te das almofadas - pedi. tinha tido uma ideia ainda melhor que uma massagem nas maos ou pes. as suas costas tambem deviam doer de estar tanto tempo ali deitado - se gostaste das massagens da mao, espera ate eu te dar a das costas - sorri e sentei.me atras dele, puxando.o ligeiramente para mim para ficar recostado - se te doerem as costas, eu paro mas tens de me avisar - falei por cima do seu ombro, começando então a massajar os seus ombros e pescoço

Ora, aquilo é que eu não esperava. Segui as suas indicações mas também precisei da sua ajuda para efetuar alguna movimentos. Nem consegui falar. Primeiro doeu e era uma sensação estranha mas depois tornou-se numa ida ao paraíso.

Ao fim de uns minutos os seus musculos relaxaram e eu sorri. Era mesmo disto que ele estava a precisar, relaxar os musculos, os exercicios que ele fazia devolviam.lhe a mobilidade mas fazia com que os seus musculos ficassem tensos e com o tempo podiam atrofiar - estás a gostar ? - perguntei, olhando para o seu pescoço. queria beija.lo. arrastar os meus labios pela sua pele e ir deixando pequenos beijos até ele se arrepiar mas eu não podia fazer isso

Se antes o meu corpo estava tenso agora estava super relaxado. O seu toque geralmente tinha um  efeito afrodisiaco mas desta vez ela simplesmente estava a deixar-me tranquilo e nem pensie nisso - hum rum... - nem conseguia articular palavras, estava manso que nem um gato e a ronronar como um. Ela tinha mãos divinas. 

- Ainda não te lembraste do teu nome ? É que eu gostava de ter algo que te chamar, algo que fizesse a nossa relação mais pessoal - expliquei enquanto roçava o meu nariz na sua pele - O que eu estou a fazer é errado. Estou a entrar em campo pessoal e desconhecido mas tu fazes com que valha apena e fazes.me querer mais apesar de saber que não devia querer - não lhe devia estar a dizer metade destas coisas. Não devia admitir o que tinha acabado de admitir mas agora ja estava e não me arrependia - Ou achas que te posso dar um nome até que te lembres do teu ?

Eu estava apenas a ter uma vaga ideia das coisas - Ainda não. Se me tivesse lembrado serias a primeira a saber - Ela queria tornar a nossa relação mais pessoal? Sorri. Sorriso esse seguido de um arrepio quando voltei a sentir a sua aproximação, o seu toque no meu corpo e já não eram só mãos. Ela estava a entrar num jogo perigoso. Mas caraças, se eu não ia jogá-lo...- Nunca foste só mais uma enfermeira, America. És a única pessoa em quem confio - Digam-me lá se isso não é o mais pessoal que pode haver - Gostaria muito disso, não gosto de ser um anónimo.