Mer & Heath's

Foi preciso reunir toda a fibra do meu ser para sair do quarto de Haven e da casa onde outrora fora o mais feliz possível, mas que agora já não me pertencia e, pior, pertencia a outro com ela. Ela, ela, ela. America. Eu nunca, nunca, nunca iria conseguir enterrar o amor que sentia por ela apesar de tudo isto.
Mas tem de ser.
Respirei fundo e saí da casa depois de lhe agradecer uma vez mais pela caixa de memórias. 

Tem de ser mas não é fácil. Estar em Londres não ajudava. Frequentar a casa dos Singer não ajudava. Ter que lidar com outra Singer, também ela com muitos traços físicos iguais ao de America, não era fácil. America estava sempre, de uma forma ou de outra, os meus pensamentos. Já se tinham passado semanas desde que a vira e ela não vinha aos almoços de domingo na casa dos Singer. Para meu desagradado, Mason vinha, justificando que Mer estava em turno no hospital. 
Tentei distrair-me, claro, mas não era fácil. Fora a terapia e lidar com Marlee, pouco me sobrava. Queimava toda a minha energia em exercício físico. Era uma forma de lidar com a frustração acumulada, que ganhara um novo foco: Marlee, precisamente. Ela tinha acabado de completar 12 semanas e eu ainda não tinha conseguido ir a qualquer ecografia, ou a qualquer consulta médica. Eram desculpas atrás de desculpas. Mas eu sentia o peso da responsabilidade e receava que algo não estivesse bem com ela ou com o bebé, talvez por isso é que ela não me quisesse por perto. Tinha pedido a Marty se poderia averiguar no hospital mas ele disse que no serviço dele não tinha acesso ao ficheiro dela, além de que não seria ético. A única outra pessoa a quem poderia recorrer era America. Não lhe liguei de ânimo leve, mas ao mesmo tempo acalentava a vontade de ouvir a sua voz. Não tive sorte, a chamada foi para voicemail por isso deixei uma mensagem de voz antes de ir precisamente ter com Marlee que me andava a suplicar para sair com ela antes que ficasse barriguda, algo que ainda não se notava nada pese os 4 meses de gravidez. 

"Olá... Mer. Desculpa, não queria incomodar-te, mas estou preocupado com a Marlee e com o b...hum..., acho que se pode estar a passar algo e que ela não me queira preocupar, não sei. Será que podias verificar se está tudo bem?  Obrigado desde já e... novamente, desculpa chatear-te com isto. Obrigado. Adeus..."

Por muito que eu tivesse recuperado uma excelente forma física, correr o percurso até ao hospital depois da corrida que já tinha feito deixara-me quase sem energia. Por aquela altura já era a adrenalina que me bomba a nas veias. A adrenalina que não era boa, mas sim um instinto de sobrevivência ao pressentir que algo estava errado pois caso contrário América não me teria ligado, e sobretudo não àquela hora.
Respirei fundo quando cheguei à entrada do hospital. Estava suado, mas felizmente não encharcado porque a noite londrina era feia. Mesmo assim não podia estar com bom aspecto no meu fato de treino composto por uns calções pretos e uma T-shirt dos Marines já velha, dos meus tempos de cadete (segundo me tinham dito porque havia ainda bastantes coisas das quais eu não tinha memória). Cheguei até Mer no espaço de minutos depois de ela responder ao meu SMS para saber em que ala do hospital a encontrar. Sabia que qualquer minuto era precioso porque o seu trabalho não permitia grandes pausas. Subi uns andares e não me perdi nos corredores não só por já conhecer partes deste hospital como q palma da minha mão, mas também por ser um sítio onde estivera recentemente: a ala da maternidade. Avistei America e segui-a até uma pequeníssima sala de atendimento que estava vazia. A distância entre nós era curta. Por segundos deixei-me levar na memória do que teria sido encurtar aquela distância para a ter nos meus braços e beija-la.
Despertei desse sonho longínquo que já não me podia pertencer.
- O que se passa?

Estava a acompanhar o raciocínio de Mer. Era uma cilada e tanto e do que conhecia de Marlee não era suficiente para saber que ela podia fazer isto, mas era suficiente para desconfiar e não lhe dar o benefício da dúvida. Eu não era santo nenhum, mas ela era capaz de ser das pessoas mais tóxicas que já tivera por perto. - Eu preciso de saber - e então Mer tocou-me e eu consegui acalmar - E o quanto antes. Já é tarde mas num dia destes ela deve estar numa discoteca qualquer. Vou pedir-lhe que venha ao meu quarto de hotel - sabia que as chances eram poucas de ela o recusar caso visse a mensagem. Viria com ideia de outra coisa, de que eu já tivesse mudado de ideias quanto a ir para a cama com ela. - vou obriga-la a fazer um teste - procedi a mandar o SMS enquanto o dizia. Em menos de um minuto tinha uma resposta de Marlee cheia de emojis algo eróticos informando que iria a caminho.

Tinha noção que era tardissímo, eram horas absurdas na larga madrugada. Enquanto observava o telemóvel na esperança de ver uma resposta de America, admoestava-me também por a contactar e arrastar para a lama com um assunto destes que envolvia a sua própria irmã.
E no entanto, quando ela respondeu, o meu coração saltou dois batimentos.
Sem ter mais nenhum sítio onde a receber, sobretudo àquelas horas, indiquei o hotel onde estava hospedado fazia já muitas semanas, demasiadas semanas. Até à sua chegada, era como que estivesse a contar os minutos. Estava cansado mas sem sono, e nem uma insónia podia culpar, já que tudo se devia à situação. Como é que eu pudera cair no jogo de Marlee? Sabia que tinha culpa no cartório, nunca me devia ter metido com a Singer mais nova, independemente da raiva que sentia. Era um idiota e sabia-o. Mas agora esse capitulo estava encerrado.
O que me fazia aperceber que se calhar já não tinha nenhuma desculpa válida para estar em Inglaterra. Eu viera aqui atrás de respostas, atrás de Mer..., e obtera um caos emocional muito maior do que antecipara, e no fim disto tudo continuava a sentir que perdera tudo, inclusive perdera o que não sabia ter tido, a filha que eu e América poderíamos ter tido.
E então ouvi o bater da porta e tentei comandar o meu coração apra se acalmar, para não acalentar nada que não pudesse ter.
 
 
 

Pleaseeeeeee don’t say sorry! Eu é que continuo desaparecida most of the time

Não sabia porque estava tão nervosa. Era Heath, eu já o conhecia, eu conhecia-o melhor do que a mim mesma. Olhei para a mensagem, confirmando que estava no quarto de hotel certo. Bati à porta, limpando as mãos suadas nas calças para não mostrar o nervosismo, esperando que ele abrisse. - Olá.. - sorri nervosamente quando ele abriu a porta, entrando quando ele me deu passagem - Conseguiste falar com a Marlee ? - perguntei, pousando a mala. Estava tão stressada que ficar quieta e calada só aumentava os nervos em relação aquele assunto