Pátio

- Desculpa, a culpa foi minha por ter metido conversa contigo - suspirei e cruzei os braços, detestando o resto da aula. Acabei por encostar a cabeça ao ombro de Kenneth e ouvir o professor, deixando de tomar notas

De nada nos valia desculpar agora - Não interesse de quem é a culpa - Disse-lhe para que não se sentisse culpada. Finalmente a aula acabou e o professor, mesmo no fim, voltou a frisar a nossa tarefa

- É um tipo empertigado de Cambridge. Acho que ele não quer saber de nada disso - Ele e tantos outros. Esta podia ser a primeira vez que estudava numa universidade normal mas já me apercebera disso - Podemos dividir o trabalho ou fazer uma direta. 

- Tentamos a direta ? - perguntei, olhando para ele - Vais ter de te manter acordado! - avisei - não vou fazer o trabalho todo sozinha - sorri, dando.lhe um encontrao - vou ligar ao meu patrao a pedir para me cancelar o turno para podermos fazer o trabalho

Teríamos três dias para fazer aquele trabalho mas mais valia começar já. Que aborrecimento - Eu não tenho problemas nenhuns com isso. A questão é: tens tu? - Esperei que terminasse a sua chamada - Na tua casa ou na minha?

- Desde que tenha café não tenho problemas com isso - revirei os olhos - queres vir à minha ? já que eu fui à tua da ultima vez fomos a tua casa para copiares os apontamentos. se quiseres até posso pedir take out antes de chegares e assim temos logo jantar - sugeri

- Teremos que nos certificar que não falta café, não - Sem isso não seria fácil. Eu já fizera muitas vigílias e precisava sempre disso. Estava com esperanças de que ela dissesse a sua. Seria uma boa oportunidade para a explorar. - Soa-me bem.

- Café não é algo que falte em mim casa e se quiseres um daqueles fancy coffees também posso fazer - garanti com um sorriso - mas tu és o senhor black coffee - ri.me

Fomos caminhando - Wow, vieste de carro? Tens a certeza que és a Hope e não um clone qualquer mas com bom senso? - Ela sempre resistira à ideia de vir de carro. Fomos até ao parque de estacionamento da universidade. Teria de deixar a minha mota ali.

- Hoje acordei tarde e além do mais estou cansada, não me apetecia ir tarde para casa - empurrei.o, não fazendo qualquer efeito a não ser a mim mesma - Eu de vez em quando dou.me a esse luxo de vir de carro para te poder dar boleia - pisquei.lhe o olho

- Não me vais dar boleia porque sou eu quem vai a conduzir - Ela tinha um belo carro. Daqueles que dizia "quero, posso e mando". Era uma bomba e não era nada o estilo dela. - Foste tu que escolheste este carro?

- Grande lata, o carro é meu e tu é que vais a conduzir ? - ri.me quando o vi a olhar para o meu carro. Era um bocadinho extravagante, tal como o de Africa e era por isso que eu não o usava frequentemente - Não, não fui eu que comprei este carro. Já entendes porque não ando nele frequentemente ? Chama demasiado à atenção

Realmente, aquele era um carro que fazia as pessoas virarem-se para olhar. Não condizia em nada com ela. Fiz-lhe sinal que me passasse as chaves. - Entendo. Eu conduzo e assim poupo-te o embaraço de seres vista a conduzir um carro destes.

Ri.me e tirei as chaves da mala, passando-as para a sua mão - Está bem Kenneth, eu vou fingir que tu não queres mesmo conduzir o meu carro e estás preocupado com o meu embaraço - sorri

Ele saiu do estacionamento da escola de peito inchado, pondo o pé a fundo no acelerador. Eu não era uma grande fã de altas velocidades mas não lhe ia estragar o momento - Até to oferecia, está só a apanhar pó na garagem - disse quando cheguei à entrada da casa, passando por todo o processo de segurança que era algo aborrecido - desculpa lá, o meu pai é um bocado paranóico

Pensei bem em que carro queria para mim, algo simples e discreto. Não muito pequeno mas também não muito grande - não sei, um fiat 500 talvez, algo simples e discreto honestamente - encolhi os ombros e voltei a endireitar.me no carro quando os portoes abriram - acho que um scanner de retina é um passo fora da linha da preocupação, já é obsessão. Não é que vá aparecer alguém a meio da noite na casa e raptar-me

Não voltei a comtactar Hope depois de ter saido de sua casa naquela noite. Entretanto já se rinham passado dois durante os quais não lhe mandara mensagens. Não fora minha intenção deixa-la terminar sozinha o  aldito trabalho que tinhamos mas também não conseguira aparecer. Já tinha uma desculpa fabricada,  só me faltava encontrar Hope. 

Tinham passado dias desde que Kenneth tinha dado sinais de vida. Depois de me ter deixado sozinha para acabar o trabalho e nem se ter dado ao trabalho de aparecer na apresentação, eu não o queria ver de todo.  Sentia-e traida e abandonada e, apesar de não dever porque ele não me era nada, continuava a sentir mas ao menos tinha a festa de Africa para me distrair. Por falar em Africa, estava a chegar ao pátio quando ela me telefonou - Africa agora não posso falar contigo, tou a ficar atrasada.. Sim, depois das aulas vou para tua casa para nos arranjarmos.. Sim.. Sim, eu tou logo lá.. Já sabes que as tuas festas são as melhores porque é que estás a dizer isso ?.. ok, até logo.. sim, sim.. adeus - desliguei a chamada e fui a correr para a aula

Olhei para o relógio novamente. Estava parado perto da entrada já há uns bons quinze minutos. Hope chegava sempre antes mas eu tinha a certeza que ela ainda não passara. Não seria dela faltar, também.

Esperei mais um pouco até a ver de longe. Fui caminhando para que quando a interceptasse parecesse natural - Hope - Chamei quando embatemos ligeiramente um no outro.