Queen Charlotte's Hospital

- Aposto que não é assim tão mau mas agora é normal, estás a dieta liquida e não é da melhor mas depois de tanto tempo em coma tens de esperar que o teu corpo se habitue a ingerir alimentos - expliquei enquanto me sentava na beira da cama - estavas quase a dormir. talvez seja melhor eu ir embora para tu descansares - disse, enquanto me levantava para fechar as persianas e assim não deixar que de manha entrasse a luz do sol

Pelos vistos tinha que esperar por muita coisa até que o meu corpo voltasse a funcionar normalmente. Deixei soltar um suspiro frustrado. Não comia decentemente, não andava, não me lembrava de nada. - Eu estou descansado. Tu nunca me cansas...

Quando ele disse aquilo, uns pensamentos impróprios invadiram o meu cérebro e eu tentei reprimi.los, olhando para ele - E como é que tu sugeres que eu te canse ? - perguntei enquanto lhe ajeitava as almofadas e as cobertas - Tens alguma coisa em mente ? - olhei para ele, rindo.me com a sua cara. Eu entendia o porque dele estar frustrado mas estar assim não o ajudava em nada, ele só precisava de tempo até tudo voltar ao normal

Demorei um minuto ou dois a pensar em sugestões. Nenhuma delas era própria ou decente para lhe apresentar. - Boa pergunta - Fiz umas caretas enquanto pensava - Podias falar-me mais sobre ti.

Ri.me e voltei a sentar.me a beira da cama, pegando na sua mão e fazendo massagens na palma da sua mão - Então o que queres saber ? - perguntei - Chamo.me America, ironicamente sou britânica, tenho 21 anos e estou a acabar o curso de medicina. Podes chamar.me de Mer ou se quiseres arranjar uma alcunha, estás a vontade - encolhi os ombros, pensando no que lhe podia contar mais - Mason é o meu melhor amigo, conhecemo.nos desde que somos pequenos e ele vem para aqui para a semana. Vais deixar de me ver durante o dia mas se quiseres, posso ver.te depois do meu turno como tenho feito. - olhei para ele e comecei a subir o polegar pelo seu antebraço, massajando.o a mesma - Tenho uma irmã mimada que tem a mania que pode, quer e manda mas comigo ela lixa.se - ri.me - Já adormeceste ?

Qualquer toque seu era bom por isso quase me senti tentando a ronronar quando ela começou a massajar a minha mão. Mas obviamente não o fiz, ou ela enviar-me-ia logo para a zona dos cuidados psiquiátricos.

- Porquê que os teus pais te dariam um nome de outro país? - Perguntei curioso, especialmente porque tinha esta sensação de que os britânicos eram muito orgulhosos. E que raios, eu lembro-me destas coisas de treta e não me consigo lembrar do meu nome. - Mer - Gostava. Sorri. Mas durou pouco porque então ela falou desse tal Mason. Não fazia sentido que eu tivesse ciúmes. Pior ainda era ela substituí-la. Fiz uma careta - Mas eu estou bem contigo. Sem querer ofender o Mason, mas acho que deves fazer um melhor trabalho  - Pisquei-lhe o olho. - Não adormeci. Gosto de ouvir a tua voz. Deixa-me desperto.

- Honestamente nunca perguntei o porque de eu ter um nome de um outro pais mas olha, lembraste.te que a America é um pais, memórias suprimidas. possivelmente escolares - disse, subindo mais um pouco a mão - Não é uma escolha minha mas sim do nosso professor orientador - expliquei - temos de passar por todas as áreas do hospital e ele esteve este tempo nas urgências enquanto eu estive nos cuidados intensivos, agora vamos trocar e depois provavelmente não vais ter mais estagiários porque iremos para a obstetricia, oncologia e outras áreas do hospital - sorri - mas obrigada por achares que sou uma boa enfermeira. esta conversa toda era suposto fazer com que adormecesses e não que despertasses - ri.me - talvez me deva calar - suprimi o desejo que tinha de lhe acariciar o rosto e o cabelo, acalma.lo e deixa.lo relaxado para ele poder descansar

Quando ele me pedia daquela maneira para ficar, partia.me o coração dizer.lhe que não. Eu não ia deixar de tratar dele por vontade própria, fazia.o porque o professor orientador o mandava e as regras da escola - Não me vais voltar a ter como enfermeira mas vais.me ter como visita - levei a mão até ao seu rosto, acariciando.o - Eu prometo que te venho ver todos os dias e ficar aqui contigo até me expulsarem - sorri. Devia ser complicado estar num pais estranho com a memória toda apagada durante meses. Não podia dizer que sabia o que ele estava a sentir mas se vir ve.lo o deixava mais calmo, eu viria todos os dias. - Eu ficava aqui contigo mas não me deixam

Não sabia porque razão tinha sido agraciado com um anjo como America. Mas ela, nas duas semanas que tinha passado desde que eu acordara, tornara-se fundamental.  Sorri ao de leve ao ouvir a sua promessa -  Bah. Tantas regras. - Mas se calhar era bom que ela se fosse embora. Quanto mais depressa me habituasse à solidão,  menos doeria quando deixasse de a ver. - Estás com um ar cansado. Vai para casa e descansa. Amanha estarei aqui. Não é como se eu fosse a lado algum - Comentei com uma nota de humor. 

- Eu sei, as regras são uma porcaria mas eu tenho de as cumprir se quero passar no estágio - ri.me - Não vais fugir ? Prometes mesmo ? É que a tua vontade de estar aqui é nula por isso não sei se não fugirias daqui e ias correr o mundo a procura da tua memoria - brinquei - eu posso ficar mais um bocadinho e depois quando as luzes se apagarem para voces dormirem, eu vou embora. agora deita.te

- Ontem adormeceste e hoje vais fazer o mesmo - comecei a passar a mão pelo seu cabelo para o relaxar - Elas vão voltar a funcionar a 100%, só tens de ter paciencia e fazer terapia que vais voltar a ter uma vida normal - garanti - relaxa. fecha os olhos e concentra.te na minha mao a mexer nos teus cabelos e vais ver que dormes - continuei a passar a mao pelos seus cabelos relaxadamente a tentar que adormecesse

Tive uma noite escura preenchida por calafrios. Quando acordei não me lembrava de nada do que sonhara, apesar de ter uma sensação estranha no peito. Uma enfermeira mais velha e um rapaz com uma bata igual à de America estavam no meu quarto. Nessa manhã não consegui sorrir e descobri, assim como os outros dois, que eu de mau humor não era uma boa peça para aturar. ,

O dia seguinte tinha sido cheio de surpresas. Eu esperava ter ainda o ultimo dia da semana para poder estar no UCI com Ele mas mal Mason e eu tinhamos posto os pés no hospital, o nosso orientador tinha.nos trocado as voltas e mudado de zona para que, quando voltassemos segunda feira, já tivessemos ambientados ao local designado. Como eu calculara, ficava em obstreticia e apesar de adorar bebés não conseguia deixar de pensar em como ele estaria e em como ele deveria estar a pensar que eu já o tinha abandonado e faltado a minha promessa.

A hora de almoço chegou e eu fui ter com Mason a cafetaria, uma oportunidade para perguntar.lhe como é que ele estaria. Mason estava com cara de poucos amigos, aparentemente a manhã não tinha corrido como o esperado e eu só esperava que tivesse tudo bem.
- Ugh ainda bem que chegaste - ele comentou e eu sentei.me com o meu tabuleiro a frente dele, olhando para ele com cara de quem ele podia continuar - estar no UCI é uma seca. Como é que aguentaste estar lá ? - perguntou.me e eu ri.me - Ainda por cima metade dos pacientes ou estão em coma ou então acordaram mal dispostos e são rudes para nós - revirou.me os olhos
- Quando eu lá tive, ninguém foi rude e é normal eles estarem em coma Mason é possivel que seja melhor assim, dependendo do diagnóstico. Quem é que foi rude ? - perguntei com curiosidade
- Olha aquele paciente que teve uma paragem cardiaca no nosso primeiro dia, o que não se lembra de nada ? Acho que só não me bateu porque não podia. Passou a manhã toda a resmungar e sempre que eu tentava socializar com ele para o ajudar, expulsava.me logo do quarto. Já a menina que perdeu a perna, ela passou a manhã toda a chorar mas ao menos ainda a consegui distrair um bocadinho - arregalei os olhos com o que ele disse. Ele não era nada assim, não comigo ou com as outras enfermeiras. Para ele estar assim é porque se tinha passado algo
- Mason... eu já venho. Tenho de ir tratar de uma coisa que me esqueci - levantei.me - Guarda as minhas coisas. Eu não demoro nada - prometi e sai dali em passo acelerado para o UCI. Não queria que ele tivesse chateado por minha causa. Passei pelas enfermeiras, cumprimentando.as e segui até ao seu quarto onde ele estava, de braços cruzados ao peito com cara de poucos amigos. Bati a porta e encostei.me a ombreira, esperando que ele desse pela minha presença - Posso ? - perguntei com um sorriso - Ouvi dizer que precisavas de uma injeção de alegria

Agora estava sozinho. Mais valia assim do que como fora antes, pela manhã,  ao ter de suportar as incessantes visitas de rotina de enfermeiras velhas e daquele interno que de certeza era o amigo de America. Só o seu sotaque super britânico já me irritava. 

Quando vi a porta abrir disse logo - Não preciso de nada, deixeim-me sozinho! - Mas então a doce voz de America ecoou. Suavizei a minha expressão - Vieste.

- Claro que vim, eu tinha prometido e além disso ouvi dizer que estavas de mau humor e a dar um mau tempo ao Mason - aproximei.me da cama dele e sentei.me a sua beira - O que é que se passa ? - perguntei, chegando a minha mao até a sua para a acariciar. Ele realmente tinha sido um pouco rigido quando ouviu a porta abrir e provavelmente haveria uma razao para isso - Ficaste assim porque eu não apareci de manha ou estou a ser demasiado convencida ? - soltei uma gargalhada a ver se aligeirava o ambiente - agora a sério, estás bem ?

Então estava confirmado que aquele era o Mason. Não estVa nada arrependido da antipatia que lhe dirigira. Até sorri interiormente.

- O meu mau humor pode ter algo a haver com isso. Não sei, simplesmente não estou nos meus melhores dias - Mas agora que ela estava aqui sentia-me melhor.

- Queres que me vá embora ? - perguntei apesar de, pela maneira como a sua mao agarrava a minha, ele não queria que eu saisse dali - Hoje o professor trocou.nos as voltas, eu vinha aqui ter contigo mas ele mudou.nos logo de área para segunda não termos desculpas mas eu vinha aqui - olhei para ele para que pudesse ver que estava a falar a serio - Tenta ser um bocadinho mais leve com as pessoas, elas estão aqui para te ajudar. Todos querem o teu bem, não sou só eu

Antes queria estar sozinho mas agora a sua presença era mais do que bem-vinda. - Podes ficar. Por favor - Esbocei o meu primeiro sorriso simpático do dia - Mas as outras pessoas não como tu.

Sorri e aproximei.me para beijar a sua bochecha - Eu fico, até a minha hora de almoço acabar mas depois só volto no fim do turno. - avisei.o - tens de lhes dar uma oportunidade como deste a mim. talvez eu me tenha apegado a ti a níveis pessoais mas isso não significa que os outros não se preocupem e não queiram que tu fiques bem - acariciei a sua mao e olhei para as horas. ainda tinha um tempinho para ficar ali e ninguém tinha suspeitado porque eu estava com a bata - importas.te que amanhã traga o meu computador ? - perguntei - pensei que podia estudar um pouco aqui contigo e talvez até pesquisar coisas relacionadas com a america para ver se te relacionas com elas

«talvez eu me tenha apegado a ti a níveis pessoais» Por momentos esqueci-me de tudo o que ela dissera antes e foquei-me naquela frase. Dáva-me esperança. Embora eu não soubesse bem de que tipo. - Está bem, eu serei bom para eles - Acabei por ceder apenas porque via que ela queria que eu fizesse esse esforço. - Claro, claro. Não quero que descuides das tuas coisas por causa de mim...

Sorri com o que ele tinha dito, apertando a sua mão - Eu sei que pode ser chato estares aqui sozinho e não conheceres ninguém mas dá uma oportunidade ao Mason, pode ser que se tornem bons amigos - encolhi os ombros - Então está combinado, amanhã eu venho e trago o computador. Posso fazer.te companhia e ainda estudo - olhei para o relógio, vendo que faltava apenas uns minutos para voltar ao serviço - Olha eu tenho de ir mas daqui a umas horas estou aqui outra vez, ok ? - levantei.me mas não soltei a sua mão - Eu venho ver.te depois do turno e quando as luzes apagarem, vou embora como fiz ontem - disse só para que ele soubesse que tinha intenções de voltar. não queria que ele voltasse a ficar chateado porque eu o ia deixar sozinho, por mim ficava ali a tarde toda com ele a falar, a conhece.lo e até ajuda.lo no que fosse preciso - Para ver se ficas de bom humor - aproximei.me dele e juntei os meus labios aos seus de forma rápida e inesperada para que ele não pudesse sequer reagir - Até logo - fiz.lhe adeus e sai do quarto