Quarto de Hope

- Não, eu não vou andar com uma arma - só de pensar em ter de disparar alguma arma, iria correr mal. o mais provavel era ser eu quem acabava por ficar magoada no processo - Nem sempre estás por perto - murmurei, olhando pela janela. De todas as vezes que tinha ficado magoada, ele não tinha estado por perto. Christian. Jennifer. Agora Christian novamente, o único motivo pelo qual ele não me tinha levado era porque estavamos num sitio público com uma multidão à nossa volta - Mas antes estavas bem, não andavas fugido com a cabeça a prémio. O mais provavel se me apanharem, é matarem-te no local - estremeci só de pensar - E, por muito que me tenhas magoado e mentido, eu não te desejo a morte

- Depois de te ensinar a usar uma talvez mudes de ideias - Talvez aquela não fosse uma discussão para ter naquele momento mas ela ia ter uma arma cosnigo a toda a hora. Teria que a convencer dos benefícios da mesma. - Faço tenções de estar doravante - Garanti num tom muito sério. Seria a sua sombra. - As coisas não são bem assim. No meu campo profissional tens sempre um alvo nas costas. Eu sei cuidar de mim, Hope, mesmo se tiver que cuidar de ti ao mesmo tempo - Por acaso seria a primeira vez que o faria: não estava de todo habituado a ter uma vida a depender de mim. Nunca. Mas acreditava que seria igualmente capaz. Caramba, se contra todas as hipóteses me mantivera a mim vivo, que diferença faria com uma pesssoa ao meu lado? - E não vai chegar a isso, okay? Por isso não penses nisto - Claro que isto era algo que não devia prometer por muita vontade que tivesse. 

- Mas é diferente, uma coisa é só teres de te preocupar contigo mesmo, outra coisa completamente diferente é teres de andar a olhar por cima do ombro para ver se eu também estou bem. És bom mas eles são muitos e eu não quero que aconteça mais disto - levei a mão ao seu lábio, deixando-a cair rapidamente - Não me vais ensinar a usar uma arma, eu não te vou deixar - abanei negativamente a cabeça - Mas isso não interessa agora. Com tanta mudança de planos, como vamos fazer a partir de agora depois de sairmos deste comboio.. não podemos continuar a andar para trás e para a frente na linha - parecia que não conseguiamos descansar um segundo. nem sabia como é que o Christian tinha tido conhecimento que eu estaria naquele sitio. - Será que a presença do Christian foi apenas uma coincidência ? - murmurei mais para mim do que para ele

Aquela conversa começava a irritar-me um bocadinho. Porquê que ela não conseguia aceitar o facto de eu querer isto? Melhor (ou pior): como é que depois de tudo o que lhe fizera ela ainda se importava com a minha segurança mais do que com a dela? Era irreal. Não estava habituado a pessoas com mais bondade no coração do que crueldade. A minha irritação evaporou-se momentamente quando me tocou no rosto - Por agora vai ter mesmo que ser um passo de cada vez. Precisamos de nos organizar e de nos preparar. O primeiro passo é sairmos deste comboio como dizes. Ficar em Lille um dia ou dois. Depois logo se vê - Não gostava nada de não ter um plano fixo. Era pior quando não havia um plano ao qual me fixar - abria amrgem a erros. - Nem que tenhamos de andar em movimento constantemente - Era uma merda mas talvez tivesse que ser. Tinhamos que despistar. Tinhamos que fazer com que as nossas pegadas não fosse seguidas. Só assim daria. Reconfortei-me no assento mas era tempo desperdiçado proque com as dores que sentia no corpo não havia conforto possível. - Tem alguma fé, Hope - O que raios já me andava a sair da boca? Fé não era coisa que eu tivesse, mas talvez servisse de consolo a ela. 

- Constante movimento ? - suspirei - Se tem de ser mas e se fossemos a policia ? Será que se eu fosse a uma esquadra ou ate mesmo a embaixada, eles talvez nos pudessem ajudar ou esconder-nos até isto tudo assentar - tentei pensar nalguma soluçao que não fosse andarmos a correr como se fossemos dois fugitivos - Fé ? Questiono-me quem está a olhar por nós para nos desejar assim tanto mal - comentei amargamente. Tentei sentar-me de maneira que não sentisse muitas dores mas a minha posiçao mais confortavel, requeria que eu ficasse encostada a ele e duvidava que ele gostasse muito disso

Compreendia que as perspectivas de uma vida em contantemente movimento e sempre a olhar por cima do ombro não fosse ideal. Aliás, nada disto era ideal nem satisfatório. Mas de momento não via outra hipótese - Não podemos arriscar. A Agência tem infiltrados em vários sítios. A rede que têm é densa - Eu próprio fora recrutado a partir do Exército... Bem-vinda ao mundo negro, Hope. Ela era uma peça inocente nisto tudo. - Temos que nos manter fora de atenção e eliminar o nosso rastro. Não vai ser fácil mas vamos conseguir - Tinha que me manter otimista. Percebi que ela, tal como eu, não conseguia encontrar uma boa posição - Podes continuar encostada a mim - Ofereci. De qualquer das formas já não devia haver muito tempo de viagem. Iria paroveitá-lo para pesquisar a cidade onde íamos desembarcar e conseguir-nos um sítio onde passar a noite.

Seria possível que eu tivesse sido ingénua até àquele momento e não me apercebesse que afinal o mundo não é assim tão preto e branco como eu pensava ? Eu sabia que havia policias e politicos corruptos mas seriam assim tanto para se infiltrarem numa agência como aquela em que ele estava ? - oh.. já percebi - só de pensar que poderia ser posta de novo nas mãos daquelas pessoas me fazia querer esconder num buraco e nunca mais sair de lá - então pronto, fazemos a tua maneira. Provavelmente é a mais segura - olhei para ele quando se ofereceu para ser meu encosto mas eu sabia que ele também não estava bem. Nunca mais me tinha lembrado do seu ferimento - Obrigada mas não devia, tu também estás ferido e precisas de ficar melhor em forma que eu, afinal de contas és o cérebro e os músculos por detrás deste duo. À bocado nem me lembrei, como está o teu ferimento - apontei para os seus abdominais - Posso dar uma vista de olhos rápida ? Não quero que estejas ai a perder sangue e não o digas porque és demasiado orgulhoso

Preferia que não arriscássemos. Ficava contente que ela decisse confiar em mim nisto. Do que de mim dependia tomaria sempre as decisões que melhor a protegessem. - Vou trabalhar para que seja segura. Não daremos passos em falso - Garanti.

Esbocei uma expressão de desinteresse - Podes ver, mas está bem. Não tenho a camisola encharcada em sangue por isso está okay - Depois da luta na estação era um milagre que assim não estivesse. Como era eu quem estava sentado no lugar do corredor virei-me a custo para ela, ficando de costas para o corredor. Levantei ligeriamente a minha t-shirt preta. 

- Não significa que estejas bem lá pela camisola não está encharcada em sangue. Quem me garante que não estás a sangrar internamente ? - perguntei com preocupação, vendo a dificuldade com que se mexia. Ele sabia disfarçar melhor que eu, muito melhor - Não podes fazer isso, está bem ? Não há mais segredos entre nós, lembras-te ? Se tu vês os meus pensos, eu tenho de ver os teus, é assim que funciona. Somos uma parceria. - Abri a mochila discretamente e procurei por pensos mas já não tinhamos mais - O que aconteceu aos pensos que aqui estavam ? - perguntei-lhe - Usaste-os todos em mim ?

Naquele momento nenhum de nós tinha garantias de nada já que ambos estávamos num estado que requeria atenção médica, e não improvisos como o que tínhamos. - Uma parceria - Repeti. Provavelmente era o melho que podia esperar dela: uma aprceria à força. O estar presa a mim devia ser um suplicio para ela. - Eu só não digo nada porque está tudo okay, já passei por isto antes, sei quanto posso aguentar - Esclareci pois não queria que ela pensasse que estava a esconder cosias dela. Queria reconquistar a sua confiança - mesmo que não o merecesse. E porquê que isto é importante para mim? Ficaríamos muito melhor servidos se eu encarasse isto com uma nova missão e conseguisse bloquear quaisquer sentimentos. Racionalmente é isto, Julian. Irracionalmente? Pois, nada disto... - Usei. Também já não tínhamos muito. Não faz mal, este aguenta. Quando sairmos em Lille podemos ir a uma farmácia - Falando em Lille, começavam a anunciar que seria essa a próxima saída dentro de quinze minutos.

- Mas não passaste por isto comigo e a partir de agora, vais-me dizer quando isto sangrar ok ? Já bastou o primeiro susto, quando pensei que estavas morto no chão do apartamento, não quero passar por um segundo - virei-me para a janela e, discretamente tirei um dos meus pensos. Eu não precisava de tantos. Eles apenas estavam a segurar as pontas no sitio, quando tivesse tempo teria de ligar o tronco todo para que facilitasse mas agora era isto que tinha - Isto serve até encontrarmos uma farmácia, clinica, seja o que for para te dar pontos como deve ser e descansares por uns momentos - tentei tirar o seu penso sem o aleijar, colocando o meu

Ia ser díficil para mim - um tipo reservado e pouco dado a dar justificações - tentar adaptar-me a este novo ritmo, a uma "parceria". Mas se era o minimo que podia fazer para a ajudar a lidar com tudo isto, então assim seria. - Está bem, prometo que te mantenho informada - Concedi. - És inacreditável - Não ficava nada contente que ela estivesse a tirar de si para mim. Agora sim ia fazer questão de passarmos pela primeira farmácia que víssemos. - Obrigado - Agradeci apesar do descontentamento com a sua decisão. Voltei a baixar a t-shirt. Ia precisar de uma nova também. - Pronta? Já fiz download de um mapa da cidade. Consegui-nos um quarto numa pensão a meio caminho do centro - Informei.  

- Teria ficado melhor se o tivessemos feito na casa de banho mas dá para desenrascar. - sorri levemente - O mais pronta possivel - assenti. respirei fundo e preparei-me para voltarmos a puxar pelo meu corpo, ao menos desta vez era em direção a uma cama - É melhor irmos andando para a porta, tenho a sensaçao que vou demorar um bocadinho a sair do comboio - expliquei-lhe, pois os comprimidos que ele me dera mal tinham feito efeito. Eu precisava de algo mais forte, mas por enquanto isto teria de dar - A pensão é muito longe da estação ?

Fizémos como ela sugeriu. Levantei-me primeiro, cooquei a mochila às costas e fiquei em stand-by para a ajudar a levantar-se e a caminhar se fosse preciso. Felizmente dali à porta não era muito. - Creio que não - Voltei a verificar no mapa - Hum... cerca de dez minutos a pé - O que podia ser ou não ser uma maratona para quem estava feito num farrapo. - Não havia muitas opções tão em cima da hora - Nem que fossem tão discretas, pensei.

- Não há problema, certamente deves ter escolhido a melhor opção - dez minutos certamente não era muito, desde que fosse a direito e não envolvesse muito esforço fisico mas não me podia queixar, não havia ninguém a tentar matar-me naquele momento - ok, não parece ser assim tão longe - o comboio acabou por parar e com a sua ajuda, acabei por sair do comboio. Quem me visse devia pensar que eu era alguma atadinha porque parecia uma pata choca a descer as escadas mas só de pensar no pequeno saltinho que era para a plataforma, as minhas costelas e todo o meu corpo gritavam para não o fazer. Queria sugerir-lhe que apanhassemos um taxi mas sabia melhor, ele queria manter a descrição e era isso que teria de fazer. Respirei fundo e baixei a cabeça, mantendo-me perto dele

Respondi aqui :)