Coffee Shop

Aqueles eram detalhes que eu já conhecia embora não compreendesse de todo. Os ricos costumavam ter empregados a tempo inteiro que lhes fizessem tudo, mesmo que não precisassem.

- Está combinado, então. Parece-me um acordo justo.

Saímos do campus. Eu estacionara num dos parques adjacentes. Destranquei de longe o meu BMW M4.

Olhei para ele e depois para o seu carro - fancy - imitei o seu comentário de quando viu a minha casa e entrei para o lugar do pendura assim que ele entrou - com um carro destes andas de mota ? - abanei a cabeça - se eu tivesse tirado a carta, eu nao trocava este carro por uma mota. nunca. é tão bonito

Aquilo arrancou-me uma sorriso divertido. Era um carro à minha medida, embora não fosse dos mais topo de gama que por aí haviam. - Eu prefiro a mota. Mais adrenalina, mais rapidez e mais facilidade em estacionar - Pus as minhas coisas no banco de trás. Arranquei para sua casa.

Encerrado.

Já escurecera por completo quando finalmente entrei no café. Reparei que não estava muito cheio nem movimentado. Sentei-me numa mesa do canto.

Depois da hora de ponta as coisas tinham acalmado. Passei a mão pelo cabelo para o soltar e fui até à mesa do fundo onde estava um cliente que não me tinha apercebido que entrara - Boa noite. O que vai desejar ? - perguntei enquanto tirava o meu bloco de notas e a caneta do bolso para apontar o pedido

Era a primeira vez que ela não parecia minimamente entusiasmada ao ver-me. Claro que percebi do que se tratava mal ela atirou aquele comentário seco. Ciúmes. O que só me fez sorrir maliciosamente. Não lhe disse nada naquele momento, esperei até que ela regressasse com os snacks. Ainda assim não lhe disso muito .

- Está bem, vou ser rápido de qualquer das maneiras - E fui. Vi os restantes clientes saírem. Eu fiquei para último. Já tinham passado os quinze minutos quando coloquei a conta e o respectivo dinheiro no balcão.

Assim que entreguei o pedido a Kenneth comecei a arrumar o cafe para me poder ir embora assim que fechasse. Fui agradecendo aos clientes à medida que foram saindo e guardando os trocos das gorjetas na minha carteira. Como da última vez, Kenneth tinha ficado para último, pagando.me assim que chegou ao balcão. Agradeci.lhe e guardei o dinheiro na registadora, tirando o avental - Boa noite. - disse quando vi que ele nao se tinha mexido do balcão

Na verdade, Hope até ficava com um ar um pouco mais interessante com aquele ar zangado e indiferente. - Podemos falar primeiro? - Questionei, colocando as mãos no ar em gesto de rendição.

olhei para ele enquanto vestia o meu casaco e pegava nos meus livros - não tenho tempo kenneth. tenho de ir para casa e tenho de ir estudar. perdi uma tarde de estudo para estar aqui. amanhã falamos - respondi enquanto ia ate a porta - alem do mais deves ter pessoas mais interessantes para falar do que eu

- Até amanhã - respondi enquanto ele saia. Tranquei a porta do café e fui até à paragem dos autocarros para apanhar o meu e ir para casa. Quem olhasse para mim pensava que eu não tinha carta ou muito dinheiro mas era exatamente o contrário, eu é que não gostava de conduzir. Comecei a estudar naquele exato lugar, tentando ignorar o escuro e a solidão da noite.

Tinha a minha mota no outro extremo do campus. Quando saí do café foi para lá  que me dirigi, deixando Hope para trás. No entanto, para sair do espaço da universidade, tive de passar pela estrada que iria passar pela paragem do autocarro de Hope. De longe já a podia ver lá. Foi só ao chegar perto que me apercebi do homem de aspecto duvidoso que se estava a meter com ela. Parei imediatamente.

Tentei ignorar ao máximo o homem que se tinha aproximado e falava para mim. Continuei com os olhos no meu livro enquanto rezava para que o autocarro chegasse rápido e o homem não se aproximasse mais. Ouvi um som de uma mota e levantei a cabeça, vendo Kenneth à minha frente.

Hope deu pela minha chegada, mas o outro homem não. Aproximava-se cada vez mais dela e com um sorriso escarninho. Antes que chegasse mesmo a tocá-la, cheguei eu - Hey - Tentei soar casual, embora por dentro estive a fervilhar de raiva por aquela presença - Vem comigo - Disse apenas.

Olhei para Kenneth e pelo canto do olho vi o homem retesar.se, parando de se aproximar. Levantei.me do meu lugar e abracei os livros contra o meu corpo, andando atrás dele sem dizer nada - Obrigada - agradeci quando estava longe da paragem - Eu vou chamar um táxi - disse, tirando o telemóvel da mala

Apesar de tudo, ela parecia calma. Mesmo assim eu podia ver que a situação a afetara - Eu levo-te a casa - Ofereci antes que ela tirasse o telemóvel da mala - A sério. Insisto. 

- Não é preciso Kenneth. Deves ter algo melhor para fazer do que levar.me a casa e além do mais, eu tenho muitos livros, não dá jeito ir de mota - disse, encolhendo os ombros. Acabei por tirar o telemóvel da mala - Obrigada por me teres tirado daquela situação

- Então fico aqui até o táxi chegar - avisei. Sobre aquilo não havia volta a dar. Ia ficar ali com ela. - Devias ter mais cuidado. Sair a estas horas e esperar naquela paragem onde quase não passam carros nem pessoas a estas horas. 

- E porque é que de repente estás tão preocupado comigo ? - perguntei irritada por ele num minuto ser tão indiferente e no outro se preocupar tanto - Eu vou a pé - disse farta de estar à espera do táxi. Comecei a andar enquanto pestanejava para afastar as lágrimas. A adrenalina do medo estava agora a desaparecer e eu só me queria enfiar na cama e chorar

- Se calhar pelo facto de te ter acabado de safar de um possível agressão?  - Respondi num tom irónico e irritado pela sua pergunta. Porquê que ela tinha de ser tão estúpida? Era de pensar que o que acabara de acontecer lhe abrisse os olhos. Apesar da sua teimosia, segui atrás dela. Parei-a pelo braço - Pára, Hope. Que raios. Se não aceitas a minha boleia, ao menos vais de táxi - Rparei nos seus olhos apesar de ela ter tentado esconder o rosto. Por norma não queria saber das emoções das pessoas, mas vendo-a ali, quase indefesa, fez-me abraçá-la e tentar acalmá-la. 

Parei de andar quando ele me segurou o braço, baixando o rosto para ele não ver que os meus olhos brilhavam com lágrimas. Senti os seus braços envolverem o meu corpo e todas as barreiras que estava a tentar manter em pé cairam nesse preciso momento. - Eu não preciso que me protejas - disse, começando a chorar. Escondi o rosto nas minhas mãos, soluçando contra o seu peito. Ele conseguia fazer com que sentisse um misto de emoções que ia desde feliz a chateada, com medo a protegida. Em tão pouco tempo ele já me tinha feito sentir mais que várias pessoas na minha vida

Eu duvidava muito do que ela acabara de dizer. Ela precisava de mim mais do que pensava. Ao mesmo tempo, não precisava de mim de todo. A minha missão não significa exatamente que ela se mantivesse segura, mas eu preferia assim. - Talvez não, mas precisas de te proteger a ti própria. Começa a vir de carro - Sugeri mas não num tom acusatório. Deixei que ela chorasse durante o tempo que precisasse, embora eu já começasse a ficar impaciente.

Tentei recompor.me o mais rápido possivel, vendo o táxi parar ao pé de nós. O senhor perguntou se alguém tinha chamado um táxi e eu assenti, afastando.me de Kenneth - obrigada - murmurei o agradecimento enquanto limpava os olhos - vemo.nos amanhã - disse, entrando no táxi para ir para casa. olhei pela janela e fiz.lhe adeus, fechando os olhos devido ao cansaço.