Coffee Shop

Não fora assim que eu esperara terminar a noite. Assegurei-me que ela entrava no táxi e que este arrancava. Só depois regressei à minha moto. Mal chegasse a casa ia conectar-me à câmara que instalara à frente do portão dela para ter a certeza que chegara bem.

encerrado.

Parecia que agora andávamos numa de nos evitarmos, eu e Kenneth. Depois de ele ter saído, a noite foi passada entre livros e papeís e o pouco tempo em que dormira foi quando adormecera a ler um artigo qualquer sobre estruturas intermoleculares.

De manhã liguei a Africa e perguntei.lhe se me podia dar boleia e assim podíamos por a conversa em dia. As aulas eram longas e aborrecidas, sendo o curso demasiado teorico em certos aspetos, fazia com que passasse maior parte do tempo sentada em cadeiras a ouvir os professores a despejar matéria.
Sugeri a Africa que fossemos até ao Coffee Shop e pedi o mesmo para as duas enquanto arranjava coragem para lhe fazer algumas perguntas - Hey Africa.. Como é que fazes quando tens uma crush ? - perguntei - Quer dizer, eu sei o que fazes e eu não sou bold como tu mas se tivesses no meu lugar, o que é que farias ?

- Oh meu deus Hope isso não acontecia à tanto tempo! - ela disse toda entusiasmada, fazendo.me corar - Quem é ? Eu conheço ? - abanei a cabeça
- Não, tu não conheces. Ele é do meu curso e não costuma dar muito nas vistas - menti. Kenneth dava nas vistas desde o primeiro dia mesmo que não o fizesse de propósito e havia algo nele que me atraia mas eu não conseguia decifrar o que.
- Devias fazer.lhe uma surpresa, assim sexy - ela sorriu e eu neguei com a cabeça. eu não era como ela - Hmm.. então e se for um jantar a dois ? - perguntou e eu mordi o lábio, lembrando.me de quando Kenneth me tinha feito o jantar
- Tu sabes que eu cozinho um bocadinho mal - ri.me e ela concordou - e eu não quero envenená.lo - Africa começou a mexer no telemóvel e eu franzi o sobrolho quando ela sorriu
- E se fores com ele dar uma volta e fazer algo geek e cientifico como tu gostas. Se ele está no teu curso aposto que vai gostar tambem - pensei na ideia e assenti, não dizendo mais nada. Não ia convidar Kenneth para um encontro depois de o conhecer apenas há uma semana, além do mais nem tinha como o contactar, nós nunca tinha trocado números.
- Eu vou esperar para segunda - disse.lhe e silêncio instalou.se entre nós por momentos até que ela voltou a ser a bubbly Africa que eu conhecia, falando sobre assuntos random e Kenneth. Esta rapariga estava obcecada com ele e se soubesse da minha crush, ia.se passar.

Se eu já estava cansada e com dores de cabeça antes de começar o turno, a meio dele as dores tinham.se tornado insuportaveis. Respirei fundo e decidi tirar um café para mim para poder aguentar até ao fim do turno. Só mais duas horas e meia e uma viagem de táxi. Continuei a atender os clientes, tentando não mostrar o meu descontentamento ou o meu estado

Eu conseguia ser mesmo irritante. Perto do fim da tarde, passei pelo café. Se precisasse de uma desculpa podia sempre dizer a verdade: o melhor café do campus estava ali. - Hey - Disse ao sentar-me ao balcão.

Vi Kenneth aproximar.se do balcão e tirei o bloco de notas do meu bolso - olá. o que é que vais querer ? - perguntei enquanto batia com o pé no chão, ouvindo o tique do relógio ressoar nos meus ouvidos cada vez mais alto

- Um café apenas - Respondi. Tentei avaliar como estaria o seu humor, caso fosse preciso conter alguns dos meus comentários.

A época dos cafés gratuitos já tinha acabado, pelos vistos. Tirei as moedas da carteira e, quando ela lançou a mão dela para as recolher, aproveitei a ocasião para roçar as palmas das nossa mãos. 

Olhei para as nossas mãos e afastei.a rapidamente, verificando se ele não precisava de troco. Bebi do café que tinha tirado para mim e pus o dinheiro do mesmo na caixa, acabando de arrumar o café para poder sair assim que fechasse.

Pensava que ela ia reagir de outra maneira. Enfim, não interessava. Também não sabia se estava virado para estes joguinhos hoje. - Vais apanhar um táxi para casa hoje, não vais? - Saiu em forma de pergunta mas na verdade era mais como uma afirmação. Nem que eu me certificasse disso.

Olhei para ele e bebi o resto do meu café, deitando o copo para o lixo - sim, vou apanhar um táxi. - disse, encolhendo os ombros - também qual a razão para o interesse ? tencionavas levar.me a casa se eu fosse de autocarro ? - perguntei - não precisas de te preocupar, eu já pus spray pimenta na mala caso algo aconteça

Lá estava a confirmação. Escusava de me assegurar que ela apanhasse o táxi então. - Escusas de perguntar qual é o interesse - Comentei secantemente. Ela sabia muito bem que eu me preocupava porque já a vira em perigo. - Às vezes isso não é suficiente.

- E noutras pode ajudar e safar.me, não sabes. - encolhi os ombros - ninguém é imune a spray pimenta por muito fortes que sejam - respondi.lhe, continuando a limpar a bancada para o evitar. pensava que tinha ficado claro que eu estava chateado quando tinha saido da biblioteca mas aparentemente não.

- O problema é se te tiram o gás pimenta ainda antes de o usares - Comentei num tom um bocadinho descredibilizador. Terminei de beber o café. Tirei os meus cigarros para fora. 

- Eu não ando com o spray visivel a todos, se eu puser a mão na mala e o puxar de lá é impossivel não o usar - revirei os olhos - também não sou da tua responsabilidade Kenneth, escusas de te preocupar. Eu sei cuidar de mim

Revirei os olhos. Ali mesmo à sua frente e para que ela visse bem. mas valia estar calado. - Até amanhã - Disse, pondo o fim à conversa desnecessária. Vesti o casaco e coloquei o cigarro entre os lábios em antecedência.

Suspirei e passei a mão pelo cabelo, arrumando o resto do café visto ele ser o meu último cliente. Fechei o café e liguei para a central de táxis, ficando à porta do mesmo à espera que a minha boleia chegasse. Talvez devesse começar a pensar em chamar o motorista do meu pai e assim não tinha inconvenientes destes.

A meio que de propósito, fiquei perto da paragem dos táxis. Demorei-me a fumar o meu cigarro. De seguida fiquei-me a mexer no telemóvel. 

Conseguia ver Kenneth pelo canto do olho mas também não me aproximei ou fui falar com ele. As noites estavam a voltar a esfriar, fazendo com o que meu corpo se arrepiasse e arrefecesse a olhos vistos. A ponta do nariz já não a sentia e os meus dedos das mãos começavam a ficar dormentes. Numa tentativa de me aquecer, comecei a esfregar as mãos nos braços e a andar de um lado para o outro enquanto esperava.

A noite chegara e o tempo arrefecera. Eu lidava bem com o frio, não tivesse eu crescido perto das húmidas e gélidas costas irlandesas. Pelo canto do olho mirava Hope de vez em quando. Os táxis nunca mais passavam. Ela ia congelar, daquela maneira.

Fosse o que fosse que ela estava  afazer não parecia estar a surtir efeito. Acabei por passar perto dela - Problemas?

Soltei um grunhido e virei.me para ele - Não. O meu táxi apenas teve um furo mas já estão a resolver o assunto - menti.lhe. da central de táxis não me atenderam e eu apenas pude deixar uma mensagem de voz - ainda aqui ? - perguntei.lhe

Eu entendia quando alguém mentia. Hope não mentia muito bem sequer, embora percebesse que ela achava ter sido convincente. Acabei por me rir. - Ainda aqui, sim. Estou à espera de alguém - Disse.

- Hmm está bem. - respondi e não disse mais nada, voltando a olhar para o telefone. o táxi não ia aparecer, depois de tanto tempo era impossivel - diverte.te sendo assim. até depois - dei.lhe um pequeno sorriso e comecei a andar para a estação de autocarros, devia estar a passar um dali a poucos minutos e ao menos não teria de ir a pé.