Residential Street

Era mesmo isso que ela fazia. Passar por despercebida. Por um lado tornava o meu trabalho mais desafiante, por outro era tornava-o aborrecido por vezes. Seguir Hope Irwin fora tão fácil que até um miúdo de cinco anos podia fazê-lo.

A minha mente reagiu depressa ao que estava a acontecer. O plano era ganhar a confiança dela, por isso...  Coloquei uma mão no pulso do rapaz e afastei-o - Baza - Avisei seriamente. Ele podia ter dado meia volta e ter regressado à festa mas ao invés preferiu ser um imbecil e chegar-se para cima de mim.

- Se eu quiser toco. Qual é o teu problema? Vai-te tu embora - Disse o outro de uma maneira que denunciava claramente a sua embriaguez. Lançou-se novamente para cima de Hope, mas antes que ele pudesse fazer alguma coisa, levou um soco tã potente que cambaleou para trás e, desequilibrando-se, caiu redondo no chão. 

Revirei os olhos quando ele tentou novamente agarrar.me mas Kenneth rapidamente se lançou a ele, deixando.o no chão. Arregalei os olhos quando vi o seu nariz começar a deitar sangue e consegui logo perceber que estava partido - não era preciso partires.lhe o nariz - disse, reparando que o pessoal se começava a juntar à nossa volta. - Christian levanta.te e vai para casa e deixa.me em paz - suspirei, tentando ajuda.lo a levantar.se mas ele estava tão embriagado que tentou levar logo a mão para o meu rabo mas rapidamente a tirei - para!

Revirei os olhos perante a sua reclamação - Peço desculpa se arruinei a cara do betinho - Comentei num tom sarcástico. 

Massajei a minha mão que estava ligeiramente dorida. Ela ainda foi ajudar o rapaz. Que estupidez. E o gajo voltara a fazê-lo. Já não era da minha conta. Ela é que fora até ele. 

Depois dele se levantar, virei.o de costas e empurrei.o para fora da cozinha - o espetáculo acabou, podem voltar para a festa - disse, indo buscar uns cubos de gelo ao congelador e po.los num pano. Voltei para junto de Kenneth e peguei na sua mão, pondo o saco com o gelo por cima - obrigada - agradeci - por me teres defendido - sorri, olhando para ele.

Por momentos ainda pensei que ela fosse levar aquele saco de gelo para a cara de Christian. Eu não estava realmente a precisar de gelo mas aceitei-o com um agradecimento.

- De nada - Disse - Eu bem te disse que estava aborrecido. E ele veio interromper a nossa conversa.

- Ele tem tendencia a ser um bocadinho.. evasivo - ri.me, vendo que os amigos gozavam com ele e ele para mostrar que era o machão, lançou.se a primeira rapariga que apareceu, não que eu me importasse - de qualquer maneira não precisavas de lhe ter dado um soco. ele está tão bêbado que um empurrão e ele estava no chão - fiz uma careta. Tirei o gelo do nó dos seus dedos e passei o polegar pelos mesmos, massajando.os um pouco - Duvido que vá ficar negro ou inchado mas foi um bom soco.

- Ser evasivo não lhe dá o direito de agir assim. É um imbecil - Ela quase parecia que o estava a desculpar. Irónico. - Não foi isso que ma pareceu pois tu estavas a empurrá-lo e não te serviu de nada - Constatei. Sorri quando ela disse aquilo - Não importa. - Pousei a minha mão em cima da sua e olhei-a diretamente - Obrigado.

Olhei para as nossas mãos e depois para ele - não tens de agradecer. nao te esqueças que eu sou pequena em comparação com ele mas se tu o empurrasses, isso já era outra história - ri.me, afastando as nossas mãos quando Africa entrou, olhando para nós seriamente.

- O que é que vocês estão a fazer aqui sozinhos ? - perguntou com a voz arrastada. arregalei os olhos quando a vi tão chateada

- nós ? - apontei para mim e para ele, corando ligeiramente

Ia para lhe responder mas foi quando a anfitriã da festa entrou na divisão e não parecia nada contente. Parecia, até, surpreendida por ver ali Hope. O seu ultraje dava-ma piada. Ri-me mesmo, baixinho.

- A tua festa é aborrecida - Disse em rodeios. Eu era frontal quando queria - Tanto para mim como para ela - Não valia a pena Hope mentir. - Por isso aqui estamos. 

Africa não estava nada, nada contente com o meu comentário. No entanto, mesmo assim, ainda via um brilho de lascívia no seu olhar, como se me quisesse despir só com o olhar. Ainda não me livrara dela, pelos vistos. - Eu já devia ter ido, até - Também me ia embora. Já não precisava de ficar nem mais um minuto naquela festa se Hope se ia embora.

Passei a mao no cabelo e peguei na minha mala, dando um passo para trás. Conhecia aquele seu olhar e assim que eu saisse de cena ela iria atirar.se a Kenneth - bem, até amanhã Africa - disse, olhando depois para Kenneth - Ken.. - murmurei, dando um pequeno sorriso - e obrigada - acariciei o seu braço e sai pela porta das traseiras rapidamente, tirando o telemóvel para ligar a um táxi

Ia seguir atrás dela, mas foi quando Africa me agarrou pelo braço - Fica, por favor. Eu gostaria muito. Posso mostrar-te que te divertes nesta festa. - Em outras palavras, posso levar-te até ao meu quarto.

- Não, obrigado - Dito isto saí. Hope ainda estava na entrada da casa. - Queres boleia? - Ofereci.

Assim que sai de casa de Africa fui obrigada a abraçar o meu corpo devido ao frio que estava. Estava a ligar para a central de táxis quando Kenneth apareceu por tras de mim - Tens de parar de aparecer assim atras de mim, ainda posso ter um ataque cardiaco - disse, olhando para ele. - nao e preciso, eu ainda moro longe posso ir de taxi

Aquela era a minha maneira de ser. Aparecer sem ser notado. Na minha profissão isso fazia toda a diferença entre um bom agente e um mau agente.

- Eu também vivo longe daqui. Se calhar até vamos para o mesmos sentido - Comentei - Não me custa nada levar-te.

- Se é para continuarmos a falar um com o outro vou ter de te oferecer um sino para pores ao pescoço - ri.me - eu vou para East Side de Londres, a zona alta - expliquei - tu vais para onde Ken ? - perguntei - posso chamar.te Ken ?

- É só porque Kenneth é longo - encolhi os ombros - Se não te importas e vais para esses lados, eu agradecia a boleia - sorri, seguindo.o quando ele disse que não tinha estacionado ali - Então porque é que vieste embora ? - perguntei - Africa parecia interessada em ficar a falar contigo - falar não era a palavra adequada mas estava a tentar ser educada - Tu tocaste mesmo no botão dela, ela não te vai largar - avisei.o

Olhei para ele, engolindo em seco. Eu gostava de estar ali. Há algum tempo que não tinha este formigueiro na minha nuca e eu gostava da sensação, era quase como se tivesse a fazer algo de errado mas não estava. Ter uma crush não era errado - Tu vieste de mota ? - perguntei, olhando para a mota e depois para ele - Só perguntei porque tu não saiste logo da casa dela, podias ter mudado de ideias - encolhi os ombros

- Não, esqueceste.te de mencionar essa parte - aproximei.me da mota, o que era um pouco assustadora - eu não acho boa ideia eu ir na mota ou ir atrás, provavelmente vou acabar estatelada no meio do chão porque não me agarrei ou então sem um dedo do pé por causa do frio que está - dei um passo atrás, começando a mudar de ideias - tudo bem, eu entendo o que quiseste dizer, não precisas de te explicar. E não é que eu tenha medo de motas porque não tenho, quer dizer tenho um bocadinho, mas o táxi é melhor.

Quando dei por mim, a minha mão estava a aceitar o seu casaco de cabedal e a vesti.lo. Fica.me demasiado grande mas ao mesmo tempo era confortável e acima de tudo, aquecia.me - Obrigada - agradeci, sorrindo timidamente. Aproximei.me da mota, colocando.me entre ele e o volante, sentando.me de lado por causa da minha saia - Assim está bom ? - perguntei enquanto mordia o lábio, tentando não olhar nem para o chão nem para ele porque estava demasiado próxima. Motas não eram propriamente altas e eu estava a uns 15 centímetros do chão mas só de pensar que quando começasse a andar podia cair e ficar toda partida, fazia com que começasse a suar - Kenneth.. eu estou a confiar a minha vida em ti como nunca confiei a ninguém.. não me mates.. - pedi, engolindo em seco, olhando finalmente para ele.