Quarto de Hope

Fui para a casa de banho e foi ai que vi, pela primeira vez o meu estado. Afastei.me do espelho horrorizada com o que estava a ver, era pior do que eu pensava. Abri a água do banho e do duche no quente e entrei, ficando sentada na banheira enquanto o jato do duche me atingia nas costas. Abracei os joelhos e encostei a testa aos mesmos, chorando mais uma vez. Eu nao sabia como ainda tinha lagimas para chorar

Assustei.me com o bater da porta mas quando percebi que era apenas Kenneth, deixei.me estar na mesma posiçao. Precisava de estar quieta, precisava de estar em paz e sentir.me limpa. Não me sentia limpa, acho que nunca mais me sentiria limpa depois do dia de hoje

Ela não trancara a porta. Abri uma fresta esperando não estar a quebrar completamente a sua privacidade. Vê-la daquela forma voltou a mexer comigo. - Hope... - Queria confortá-la mas não sabia como. Alcancei uma das suas toalhas fofinhas e abri-a, como que a convidando a enrolar-se nela. 

Ouvi.o chamar pelo meu nome e a primeira coisa que me veio a cabeça foi Como é que ele ainda consegue olhar para mim ? Como é que ele consegue ficar aqui ?

Levantei a cabeça, olhando para ele com os olhos vermelhos, vendo.o com um dos meus toalhoes, a espera que eu reagisse mas eu nao conseguia. A água quente queimava as minhas costas mas era a unica maneira de ficar limpa

A minha pele estava sensibilizada, por isso, quando ele encostou a toalha em mim, nao consegui evitar estremecer de dor. - Como é que ainda estas aqui ? - perguntei num murmúrio, olhando para ele molhado por minha causa - Como é que consegues olhar para mim ? - encostei a testa ao seu ombro e deixei.me ficar

Engoli em seco, deixando que ele me levasse para a cama. Desde que tinhamos chegado a casa era como se tivesse ficado entorpecida e a vontade de fazer o que quer que fosse, tinha desaparecido. Com o termostato ligado, a casa estava quente e acolhedora, fazendo.me sentir um pouco mais segura até porque ninguem conseguia entrar ou sair sem a passe. - Como é que consegues olhar para a minha cara ? - Estava toda negra e cheia de cortes, a minha bochecha inclusive estava inchada. Ele tinha feito o que ninguem tinha conseguido fazer, ele fez com que me sentisse toda deformada como um monstro

Encostei a minha bochecha a sua mao e lancei os braços a volta do seu pescoço, abraçando.o. A minha pessoa. Desde quando ficara eu tao dependente dele ? Respirei de alivio quando chegamos a cama e eu simplesmente me deixei ficar - Ficas comigo ? - pedi

Deitei.me de lado em posiçao fetal e assenti - Eu quero que fiques comigo - estiquei a mao para ele, para que ele pudesse pegar nela - Eu nao sei como seguir em frente - estava cansada, derrotada. Sentia.me sem esperanças de que a vida fosse melhorar pois sempre que isso acontecia, algo de mau vinha atras

Suspirei, procurando conforto entre os seus braços. - Não sou, não sou.. - deixei.me ficar quieta, vendo as horas passar. Ele ficou comigo enquanto eu chorava, enquanto eu nao chorava, enquanto fazia perguntas retoricas, sem nunca me deixar ou pedir satisfaçoes. Eu nao podia ter pedido alguem melhor

Acabei por adormecer, algures de madrugada. O meu corpo estava cansado, a minha cabeça estava prestes a explodir e, por muito que quisesse manter.me acordada, nao conseguia. Acordei sozinha na cama, contendo um grito contra a minha mao. Os pesadelos tinham voltado e estavam aqui para ficar e atormentar as minhas noites - Kenneth ? - chamei

Respirei de alivio quando ele voltou a entrar no quarto - Pensei que te tinhas ido embora - esfreguei os olhos e voltei a deitar.me. O meu corpo doia sempre que eu me mexia ou respirava, estava ainda mais dorida que ontem

- Eu sei mas.. podias ter mudado de ideias - expliquei. como é que lhe podia explicar as minhas inseguranças tinham multiplicado ? - eu nao tenho fome - tinha tantas dores que so de pensar em comer ou mexer.me, me deixava mal disposta

Estava deitada no meio da cama a olhar para ele. Parecia um principe com os seus caracois desalinhados, as suas panquecas perfeitas e o bule de cha a fumegar - eu fico aqui a recuperar, deitada e quieta no escuro até deixar de ter esta cara

- Não Kenneth, eu não consigo - abanei a cabeça negativamente - Eu como mas, pelo menos hoje, eu fico aqui. Doi.me tudo - abracei o corpo. - Eu só de pensar em me mexer, sinto.me pior - sentia.me como se tivesse sido atropelada por um camiao