Mer & Heath's

Paguei ao taxista e depois ajudei-a a sair do carro e a entrar em casa. Fazia imenso tempo desde a última vez que estivera aqui, mal conhecia a sua própria casa e nós éramos melhores amigos. Vi o olhar de Mer fixar-se nas escadas depois de ter garantido uma escuridão quase total no piso térreo. Imaginei o que se poderia tratar - Queres que suba primeiro e feche algumas portas? - Referia.me ao quarto da bébé, que deduzia que estivesse pronto. 

Mantive a mão no corrimão enquanto olhava para o andar de cima - Não sei... - murmurei - Não me lembro se a porta está aberta ou se o berço está no quarto dela ou no meu - dei um passo em frente. Conseguia ver perfeitamente, na minha cabeça as paredes cor de rosa e a mobilia branca. Mobilia que tinha comprado apenas a umas semanas. Apertei a sua mão, tentando utiliza-lo como um porto seguro - Eu não sei..

- Também podemos subir juntos e lidar com isto - ofereci, caso ela não soubesse o que queria fazer. Nada disto podia ser fácil para ela. - O que eu sei é que tu precisas de descansar - a ainda tinha que lhe dizer sobre a celebração fúnebre. Dei um passo em frente, até às escadas, e subi o primeiro degrau, ainda com a sua mão na minha. 

Assenti e deixei que ele me guiasse na minha própria casa até ao quarto. Quando voltara, tinha guardado tudo o que me lembrara de Heath mas agora havia novas coisas que me lembravam Haven. Tinha comprado um livro de gravidez que estava na minha mesa de cabeceira, sabia que havia coisas que tinha comprado e ainda não tinham chegado. Olhei para a cama desfeita e para a porta em frente ao quarto, o quarto de Haven, o antigo escritório. - Eu acho que não consigo dormir - disse-lhe

A porta do quarto da bebe estava felizmente fechada. Se bem me lembrava, ali seria o seu escritório - Podes tentar. Pode ajudar - Não queria que ela atingisse um ponto de exaustão do qual não poderia recuperar. - Ou algo que sintas que precisas de fazer?

- Não - Não queria fazer nada. Não queria ver ninguém. Só queria desaparecer. Fechei as janelas e puxei-o até a cama para nos deitarmos - Ficas ? - pedi - Desculpa pelo trabalho, também deves estar cansado

Seguiria o que ela quisesse fazer. - Fico, claro. Nem tens de me perguntas - Tirara uns dias de férias para poder estar com ela nos próximos tempos. A nossa chefe não se importara com o pedido inesperado dada a situação. - Preciso de tomar um duche, no entanto. - há quase 48h que não o fazia, ainda estava com a roupa do serviço.

Assenti. Apontei para o corredor apesar de saber que ele sabia onde era a casa de banho. Olhei para as nossas mãos e tinha que o deixar ir mas tinha medo de estar sozinha - Tens toalhas no armário da casa de banho, é só tirares o que precisares - expliquei-lhe

Assenti em agradecimento - Eu volto já - proemti essa brevidade pois podia perceber que ela estava a evitar ficar sozinha. Desentrelacei as nossas mãos e fui toma rum duche rápido, como dito, e troquei para as roupas sobresselentes que tinha no saco. Era muito estranho estar naquela casa. Embora não tivesse visto nenhuns produtos de higiene masculinos, ainda sentia a presença do maldito americano. Mesmo longe, ele continuava infiltrado na vida de Mer e por causa da Haven haveria sempre algo que a faria recordá-lo. Respirei fundo e tentei não pensar nisso. Regressei ao quarto silenciosamente nao fosse ela por acaso ter adormecido, 

Ele separou as nossas mãos e saiu do quarto. Deixei-me estar no mesmo sitio, na mesma posição. Não conseguia mexer, estava a espera que o mundo desabasse porque era isso que eu sentia que ia acontecer. Senti a sua presença antes de o ver, todo ele irradiava pena. Eu não queria que sentissem pena, detestava que o fizessem mas eu não sabia como reagir

-  Hey - disse ao ver que ela estava acordada afinal de contas. Não querendo invadir muito o seu espaço, pois ela poderia ter mudado de ideias, sentei-me num canto da cama enquanto a olhava. - Há algo que preciso de te informar. A cerimónia fúnebre é amanhã de manhã no Kensal Green Cemetery - escolhera e pagara para uma cerimónia discreta, num sítio mais intimido do cemitério. 

- O que ? - perguntei - Não.. Não.. - abanei a cabeça, sentindo-me em panico - Não pode ser já. Eu não estou pronta - as lágrimas que tinha estado a segurar, começaram a cair outra vez - Eu não estou pronta - encolhi-me, abraçando o meu corpo - Mace, não pode ser

Não esperava que ela reagisse bem. Aquilo ia ser sempre difícil mas não havia maneira de o evitar. Cheguei-me perto dela e voltei a envolvê-la nos meus braços. - Desculpa, adiei o quanto pude mas eles acham melhor - informei - Nunca vais estar pronta, Mer. Nenhuma mãe deveria alguma vez ter que o fazer.

- Eu devia ter anos com ela e não minutos - disse contra o seu peito - Preferia ter morrido eu, ao menos ela teria uma familia e eu fiquei sozinha - era egoista mas eu nao queria estar num mundo sem ela - Eu nao quero - o que tinha passado nas ultimas horas tinha sido provavelmente o pior que ja me tinha acontecido. Chorei contra o seu peito até que, devido à exaustão emocional e fisica, acabei por adormecer novamente nos seus braços

Não havia nada que eu pudesse fazer, nada que eu pudesse dizer para a ajudar. A impotência frustrava-me de maneiras que nunca tinha concebido. Por isso o único que podia fazer era ficar ao seu lado, afagar o seu cabelo enquanto ela chorava, abraçá-la quando ela precisava. Adormeci junto a ela, também eu exausto daquelas horas infernais.

Acordei ainda no peito de Mason mas ele estava a dormir profundamente, era como nos tempos de adolescentes em que adormeciamos no seu quarto. Beijei a sua bochecha e levantei-me sem o acordar, indo até ao quarto de Haven. Precisava de me recompor, não podia deixa-la ir assim. Devia-lhe tudo. Com mãos trémulas e os olhos cheios de lágrimas, escolhi um vestido rosa que tinha comprado para ocasiões especiais, umas meias rendadas e um gorro. Era o mínimo que podia fazer. Voltei para o quarto e, abraçando as roupinhas contra o meu peito, deitei-me de novo encostada a Mason

Eu estava tão cansado que perdera noção do tempo. Quando acordei estava tudo escuro, mas isso devia-se a Mer ter fechado as cortinas, pois um breve olhar ao seu relógio de cabeceira dizia que pouco passava das 17h00. Ainda tinha Mer encostada a mim por isso não me mexi, não a querendo perturbar, mas notei que afinal ela já se tinha levantado e pelos vistos tinha ido ao quarto da bebé pois as roupinhas contra o seu corpo assim o denunciavam. Deixei cair uma lágrima e beijei suavemente o topo da cabeça da minha melhor amiga.

Incapaz de voltar a adormecer, tinha suavemente saído da cama e ido até à cozinha preparar algo para comer e preparar algo para ela também, embora questionasse se ela comeria ou não. Aproveitei também para fazer gelo, já que ela não tinha no congelador, pois para as suas dores deveria ajudar, se ela ao menos se deixasse ajudar. Subi as escadas quase a correr quando ela me chamou - Mer? - Perguntei alertado.

- Eu preciso de saber onde é que ela está - disse, quando ele entrou pelo quarto adentro. - Eu preciso de lhe vestir a roupa. Ela não pode ir só com o babygrow, não pode. Está frio e ela merece a melhor roupa que eu lhe comprei. Não era suposto ter só o babygrow - limpei as lágrimas, não me conseguindo mexer muito com as dores

- Mer... - Sabia que ela podia vir com esta ideia mas não tinha uma resposta para ela - Por esta altura deve estar a caminho da funerária. Eu posso ligar-lhes - Se era isto que ela queria, era isto que eu faria - Mas antes tens de cuidar um pouco de ti também e estou a falar a sério - Fui até ao meu saco e tirei de lá a bomba que trouxera do hospital. Havia dois círculos molhados na bata de hospital que ela ainda vestia. - Estás com dores. Não o negues, por favor - Não sabia a extensão do seu desconforto físico mas ela de certeza não mo ia dizer - Devias tomar um duche depois. E comer qualquer coisa.

Como eu antecipara, ela rejeitara a comida. O seu corpo estava fraco, só ia enfraquecer mais. Temia por ela - Sê razoável, por favor. Se não te alimentares pode acontecer-te alguma coisa - disse num tom preocupado. Tirei o telemóvel do bolso e fiz como ela instruiu. - Está tratado.  

Suspirei de alivio - obrigada Mace - encostei-me a cabeceira da cama, continuando a tirar o leite. Quando e que este pesadelo ia acabar. Estava cheia de colicas, a minha cabeça estava a matar-me e as minhas mamas parecia que iam explodir - desde quando e que eu nao sou razoavel ? - perguntei - nao te preocupes, tenho tudo sob controlo

A maneira de como ela o dizia fazia-me saber que ela não tinha nada sobre o seu controlo. Mer sempre fora cuidadosa, metódica, planeava tudo muito bem e no espaço de poucas horas o plano que tinha para a sua vida desaparecera. - Se estás a ser razoável, então talvez possas seguir o conselho da Dra. DeLuca e receberes apoio psicológico. - pedi, esperando que pelo tom da minha voz transparecesse o quanto queria que ela dissesse sim.