Quarto de Hope

Respirei fundo quando ela por fim me fez aquele pedido. Não me surpreendia que o fizesse e, em toda a verdade, eu nunca lhe negaria tal pedido pois também eu tinha todas as células do meu corpo a pedir por essa despedida. A última vez. Não fui capaz de lhe responder mas, sem que ela esperasse, flecti os joelhos o suficiente para a conseguir pegar e ficar com Hope nos meus braços enquanto nos encaminhava para a cama. Iria venerá-la na próxima hora e depois partiria. 

Deixei que ele me pegasse ao colo. Não foi preciso troca de palavras entre nós, sabia exatamente o que ele queria dizer apenas com um olhar. Ele tambem queria aquilo e acho que seria a única maneira de nos separarmos com algum closure. Iria ser maravilhoso e eu nunca me iria esquecer dele ou do tempo que nós tiveramos juntos

Ela ainda estava enrolada entre o lençol que usara para combater o frio por isso o meu primeiro passo foi afastar o tecido como se de um casulo se tratasse a removesse do mesmo. Deleitei-me de seguida com a visão magnifica. Os primeiros raios de sol passavam iluminavam o seu corpo e quase parecia reluzir. Tinha a certeza que aquela visão estaria para sempre gravada na minha mente. Roubei-lhe um beijo novamente enquanto juntava os nossos corpos.

Os seus olhos castanhos brilhavam com entusiasmo, um entusiasmo que eu partilhava. Segurei o seu rosto quando me beijou, levando as minhas mãos até aos seus cabelos. Memorizei cada toque da sua pele, cada toque dos seus lábios, a sensação dos seus cabelos entre os meus dedos - Vou ter tantas saudades dos teus beijos.. do teu toque..

Era tão fácil esquecer que havia um mundo fora daquela cama e que o tempo passava quando a tinha nos meus braços. Era a sensação mais doce que já sentira na vida e, pelo menos só por aquela hora, ia esquecer a realidade - de quem eu era, de quem ela achava que eu era, de como divergentes eram as nossas vidas. - Noutra vida não teríamos de nos despedir - Até ficava injusto que eu lhe dissesse aquilo mas assim o era. Tacteei gentilmente o seu tronco com a minha mão. Ela estava quente. Acariciei ao de leve o seu seio sobre o qual depois pousei um beijo suave. 

Fechei os olhos, imaginando exatamente o que ele dizia. Se a vida fosse justa eu nunca teria de me despedir dele, nos os dois ficariamos juntos a tirar o curso e quem saberia qual o curso que a nossa vida tomaria mas eu sei que nunca o iria deixar ir. Suspirei, passando a mao pela sua pele - e que vida maravilhosa seria, ter.te comigo para sempre

"E que vida maravilhosa seria, ter-te comigo para sempre": tive que fazer um esforço enorme para não registar aquelas palavras  permanentemente. Não havia vida nenhuma em que pudéssemos ficar juntos...isto significava que eu não podia lamentar algo que nunca teria sido viável, certo? Então porquê que me doía o peito? Estás a ser ridículo, Julian. Como palavras não eram o meu forte dediquei-me antes ao toque, a abraçá-la. Durante a próxima hora não a larguei, não me cansei de a acariciar para que pudesse ouvir os seus gemidos, deleitei-me com cada segundo em que estivemos fisicamente unidos, com cada onda de prazer que me arrebatou. 

Aquele tempo com ele, apesar de não ter sido muito mais do que uma hora, parecia ter sido infinito. Tinha dedicado todo aquele momento a ama.lo e a deixar que ele fizesse o mesmo porque apesar dele não o dizer, ou tentasse afastar.se, eu conseguia sentir no meu coraçao que ele sentia algo forte por mim. Quando finalmente ficamos os dois, exaustos, lado a lado, eu sentia que podia fazer tudo. Beijei.o carinhosamente, abraçando.o como agradecimento por aquele momento

Acabámos abraçados e exaustos quando o sol já raiva pela janela. Tinha a respiração por normalizar e o coração a bater aceleradamente. Queria poder parar o tempo, queria ser outra pessoa. Mas não podia. Tinha que me ir embora a dada altura - Não me vou esquecer disto. 

- Nem eu - sorri, acariciando o seu rosto - talvez devesses ir tomar um banho. Não podes ir de viagem todo suado - voltei a beija.lo e levantei.me - Enquanto o fazes, eu preparo.nos um pequeno almoço para quando te acabares de vestir - vesti um robe, olhando para ele, deitado na minha cama, todo nu. Esta visao seria algo que eu nunca esqueceria

Custou separar mas ainda bem que ela tomou a iniciativa. - Olha, se calhar vou antes a casa. Ainda tenho de fazer as malas e arrumar o apartamento - Informei - Mas talvez possa passar cá e almoçar contigo antes de ir para o aeroporto?

Saí da sua cama sabendo que seria a última vez que o faria. Vesti-me e procurei Hope pela casa. Não fazia ideia do que me esperava- Hope?

- Na garagem - gritei, sorrindo. Esperava que ele gostasse da surpresa. Apertei o robe e pus.me de frente para a porta para que ele nao pudesse entrar completamente na garagem - Estás pronto ?

Segui-a até à garagem. O que é que ela estava a tramar? Uma coisa era certa: escondera-o no sítio certo. - Creio que sim - Respondi meio desconfiado ainda a tentar adivinhar o que seria.

Sorri e agarrei na sua mao, pousando a chave da mota na sua mao com um pequeno porta chaves em forma de camera - O porta chaves é para te lembrares de mim. Um coração ou um H seria muito piroso, então eu pensei que a camera seria giro - expliquei.lhe, desviando.me para lhe mostrar a mota da minha mãe, a mota que ele tanto adorara quando vira, com um laço azul em cima

Quando ela colocou a chave na minha mão percebi do que se tratava e imediatamente fiquei tão comovido quanto irritado comigo próprio por a levar a fazer uma coisa destas - Hope... - Dei um passo para entrar na garagem e apreciar a beleza que era aquela mota. - Não posso, é a mota da tua mãe. É das coisas mais preciosas que tens - Que ela estivesse disposta e de livre vontade a dar-me era de loucos... parte da minha missão funcionara, realmente: tê-la loucamente apaixonada por mim. - Vou estar a viver fora sei lá quanto tempo. Não a posso levar comigo. Teria de a deixar parada numa garagem - Não era o destino que uma máquina brilhante como aquela merecia. - Eu agradeço a intenção, Hope, a sério que sim... - Nem sabia o que dizer.

- Eu nao vou usar a mota, tu sabes disso. Eu mal consigo estar em cima dela contigo a conduzir, ela aqui vai ficar parada - disse.lhe, negando o que ele tinha dito - A mota é só um bem material, tenho bens mais preciosos. Tenho fotografias, memórias - levantei o meu fio que nunca saia do meu pescoço - Este colar era da minha mãe e que depois o meu pai me deu. Tu adoras esta mota, tu aprecias esta mota. Aceita - pedi.lhe novamente, fechando a sua mao a volta da chave - se tu sentes seja o que for por mim, aceita

Isto não lhe poderia negar. Também não a queria voltar a ver triste e rejeitada por isso agarrei bem nas chaves e assenti. - Nunca me vou esquecer disto, Hope - Garanti. - Sendo assim vou levá-la agora - De qualquer das maneiras a minha antiga estava na sucata depois do acidente - Obrigado.

- Não tens de me agradecer - sorri e beijei.o. Sabia que provavelmente não o ia voltar a ver e se visse, ele já estaria com alguém novo mas ao menos sabia que ele assim ia com uma recordação minha - Agora vai la, não quero que te atrases por minha causa. Foi por isso mesmo que ta quis dar agora, assim já a podias usar. Sabes que de vez em quando uso a cabeça e não é só para te fazer surpresas sexy's no quarto - pisquei.lhe o olho

- Também não me vou esquecer das surpresas sexy no quartp - Retorqui. Beijei-a uma vez mais - Volto daqui a umas horas depois de fazer as malas - Ainda não ia conseguir despedir-me definitivamente. A custo afastei-me dela e tomei a minha nova mota, seguindo dali até ao apartamento que alugara. Não tinha muito para empacotar, claro. Era um homem que vivia de uma única mala, as minhas posses parcas. Também não tinha que me preocupar com o apartamento porque este estava a cargo da Agência. Usei foi o tempo para arranjar um armazém onde pudesse guardar a mota em segurança. Por uns tempos não a poderia utilizar caso Jennifer a reconhecesse. 

Por muito que eu quisesse acreditar que o ia conseguir deixar ir sem chorar mais uma vez, sempre que pensava nos meus dias sem ele, o meu coração apertava.se. Olhei.me ao espelho, vendo a diferença na rapariga que olhava para mim, ele tinha.me dado confiança, os meus olhos brilhavam e o sorriso que agora tinha no rosto era verdadeiro. Acabei de me limpar e quando estava a acabar de vestir a camisola, comecei a ouvir barulho no andar de baixo. Parecia impossivel Kenneth ja ter voltado, tinha passado meia hora - Kenneth ? - chamei - Esqueceste.te de alguma coisa ? - perguntei, saindo do quarto

Por fim encontrara um armazém. Paguei-o em dinheiro e logo 12 prestações de uma vez. Não sabia exactamente quanto tempo estaria em Londres. Havia sempre a possibilidade de ser colocado em missão novamente. Não sabia bem o que pensava disso: por um lado seria ótimo mergulhar de cabeça noutra missão que me fizesse esquecer o falhanço desta - o meu primeiro falhanço - mas por outro lado havia uma parte de mim que queria isolar-se até conseguir esquecer tudo o que se passara. Senti o telemóvel vibrar-me no bolso e retirei-o de lá a achar que seria uma mensagem de Hope. O meu ânimo caiu a pique quando vi o nome de Jennifer no visor «Logo à noite vais finalmente compensar-me por esta ausência toda. Vamos divertir-nos para compensar o mau sexo que tens andado a tentar com a miúda tola». Ali estava um problema que teria de resolver. Já não ia suportar mais Jennifer, mas ao mesmo tempo era minha superior. Não lhe respondi. Chamei um Uber e regressei a casa de Hope.

Comecei a descer as escadas quando percebi que não era Kenneth ao ver uma mulher com uns longos cabelos negros juntamente com dois homens a abrirem tudo o que era gavetas, como se tivessem à procura de alguma coisa. Senti o meu corpo congelar onde estava, o pânico e o medo impedindo-me de mexer mas eu não podia ficar ali onde podia ser vista. Se subisse ainda podia chamar a policia e ligar a Kenneth para não voltar para casa.

- Hope escusas de estar a fazer cerimónias porque eu também não as vou fazer - ela disse, num tom provocatório - desce - mandou e quando ela me deu aquela ordem, comecei a correr no sentido contrário. Como é que ela sabia o meu nome ? Como é que ela tinha entrado - vão buscá.la! já!

Consegui chegar ao meu quarto e fechar a porta mas estava presa. Não havia nenhum sitio para ir e a porta estava quase a partir.se. Agarrei no telemovel e mandei uma mensagem rápida a Kenneth - Larguem.me - gritei quando senti duas maos a agarrarem.me pelos cabelos. Isto não podia estar a repetir.se. Comecei a pontapear, sabendo que eu me conseguia defender, se me concentrasse e não entrasse em panico

Ainda estava a a uns vinte minutos de distância da mansão dos Irwin quando senti o meu telemóvel vibrar novamente. Ia ignorar novamente - e ignorei durante alguns minutos - pensando que seria Jennifer a pressionar o assunto. Quando por fim parei um sinal vermelho saquei do telemóvel rapidamente e vinha de Hope. «SOS get the police» Reli. Aquilo não podia estar certo, pois não? O que se passava? Tentei ligar-lhe mas o atendedor ia para voicemail. Instalou-se no meu peito uma sensação de pânico. Carreguei a fundo no acelerador e ignorei todos os semáforos até alcançar a sua casa. Logo de imediato vi as marcas de pneus recentes e o portão da garagem amassado - Hope - Disse-o como que num amuleto. Ela tinha que estar bem. Porra, tens de estar bem. Tirei a minha arma da mala e empunhei-a de imediato. Ao entrar em casa dei-me de caras com o caos: tudo partido, destruído ou fora do lugar. Parecia que alguém lutara... ou quisera encontrar algo. Rapidamente verifiquei todas as divisões mas nem sinal dela nem de ninguém - HOPE - Gritei de uma vez. Entrei no seu quarto ao ver a porta semi-aberta. Havia splashes de sangue fresco no chão. - Merda - O que raios se passara? Onde estava Hope? Então ouvi um barulho de movimento do outro lado do quarto e depressa subi a minha arma apenas para encontrar outra apontada na minha direção.

- Quem diria que continuarias a ser uma desilusão, Campbell. A cabra da miúda já não está aqui. Vai finalmente ter o tratamento que deveria ter tido no inicio. 

Foda-se, isto não podia estar a acontecer. Queria matar Jennifer ali e agora. Mas não podia, não se quisesse saber algo de Hope. 

- O acordo era que ela não era tocada. ELA NÃO SABE NADA! - Gritei extremamente irritado. - Onde a tens? RESPONDE-ME - Mas Jennifer apenas se riu.  Cabra. Coloquei o dedo no gatilho - Jennifer, eu juro que se não me dizes agora mesmo eu...

- Tu o quê? Não sabes onde raios está a lealdade? Em mim, seu filho da puta. PARA COMIGO. Ou já te esqueceste de quem te salvou a vida? Ingrato de merda. És um falhado. Deixares-te levar pelas cantigas de uma miúda mimada. Mas já não, Julian. Esta palhaçada acaba hoje - De repente percebi que não estavas sozinhos. De trás de mim apareceram dois homens, cada um agarrando-me nos braços. Tentei debater-me e largar-me mas um deles acertou-me na cabeça com algo bem forte. Disparei a minha arma nesse momento sem conseguir ter Jennifer em mira exatamente. Ela percebeu-o como um convite para fazer o mesmo. Senti uma dor cortante no meu torso. A última coisa que vi foi ela por cima de mim - Bons sonhos, seu merdas. Diverte-te... tal como eu me vou divertir a fazer aquela cabra gritar até implorar que a mate.