Mer & Heath's

Suspirei e deixei este assunto ir. Ele estava ansioso por casar, eu queria estender o noivado o máximo possível mas talvez não ganhasse desta vez. Já tinha a casa - ok - respondi-lhe - mas se não tivermos dinheiro dentro de um mes, vamos só ao registo civil e ao restaurante, nada de casamento no parque - avisei-o - aceito se aceitares este compromisso - cruzei os braços, olhando-o seriamente. Não nos ia colocar cheios de dividas só por um papel assinado. Nós já faziamos tudo o que um casal fazia. Viviamos juntos, partilhavamos contas. qual seria a diferença depois ?

ele quebrou o abraço primeiro que eu e apesar da situação em que nos encontrávamos, o meu coração não deixava de se partir um bocadinho por ele não ser meu. voltei a colocar o meu fio com o H ao pescoço, escondendo-o dentro da roupa - Mais uma vez.. Desculpa.. Não era suposto teres descoberto desta tragédia assim, não comigo aos gritos a dizer aquilo. Era suposto eu ter tempo para me preparar e arranjar maneira de te dizer suavemente, de te preparar para isto. - suspirei, limpando as lágrimas - Sim, nós precisamos de falar a sério. - olhei para ele - Se quiseres pode ser agora ou se precisares de tempo, podes-me mandar mensagem quando tiveres pronto e combinamos as horas. - baixei o olhar, sentindo as minhas bochechas aquecerem de raiva só de o pensar com Marlee. era como se o meu sangue fervesse de ciúmes. ciúmes aos quais não tinha direito, pois era casada - Seria errado dizer que me sinto cheia de ciúmes ao te imaginar com a minha irmã ? - perguntei - Cá dentro sinto que és meu e só meu.

Eu não fazia ideia o que pensar. Este só podia ser o momento mais surreal da minha vida e no meio de tanta dor, de tanta mágoa, estava completamente avassalado para conseguir por os meus pensamentos em ordem. Tudo isto parecia uma má piada, uma péssima piada que eu esperava que alguém viesse desmanchar. Ajudou começarmos a caminhar noutra direção e não ter que olhar America nos olhos - Errado? Não sei. Indevido? Talvez. - O que lhe podia dizer? Eu era só seu. Sempre fora e sempre seria, essa era a minha maldição. Já ela escolhera não ser minha, e tornara-se de outro ainda para mais - Foste tu quem me abandonou. - disse baixinho, tentando conter as minhas emoções que estavam que nem um furacão - Foste tu que prescindiste de mim. Não tens qualquer direito a sentir o que quer que seja... Eu já não sou nada, já nao sou de ninguém - parei por uns intantes, quase se conseguir respirar. A dor toldava-me o juizo e eu sabia que as minhas próximas palavras eram injustas e cruéis mais ainda assim não consegui filtrar - Tu arruinaste-me, Mer. O meu coração era teu inteiramente e agora já nao bate por nada nem ninguém. Eu vivo em modo automático, sem qualquer alegria nem real propósito.  Por causa de ti.

Cada palavra que ele dizia era como uma facada no coração mas era uma facada que eu merecia. Ele tinha razão. Eu abandonei-o. Eu perdi a nossa filha. Eu casei com outro. Limpei as lágrimas que caiam silenciosamente. - Tu tens razão. A culpa é minha. Arruinei a tua vida e a minha mas eu não estava a pensar em nós, eu estava a pensar na segurança da nossa filha e mesmo assim falhei em mantê-la segura. - Disse entre soluços - Não é desculpa para o que te fiz mas eu já estava a sentir-me a mais na tua casa quando te vi a beijar Catherine e depois a tua mãe ligou-me a oferecer dinheiro para abortar, eu tive medo do que pudesse fazer então eu vim-me embora da única maneira que sabia que tu me deixarias vir. Eu parti o teu coração porque não queria que perdesses a tua família que tinhas acabado de recuperar - Encolhi-me e apertei o meu peito, lembrando-me das primeiras semanas que tinha passado sem ele, da dor que sentira quando descobrira a sua morte depois de ter perdido Haven. - A única coisa que te posso pedir é desculpa e espero que um dia, se me perdoares, consigamos ser amigos porque tu vais ser... - custava dizer, era como se tivesse um nó na garganta - o pai do meu sobrinho e eu sei que tu vais ser um excelente pai

Tinha deixado escapar algo que tinha guardado tanto tempo. Mas o peso dos segredos todos, o peso da culpa, tantos anos a não conseguir respirar fundo - Eu pensei que tu ias ficar bem. Tinhas a tua familia de volta, a tua memória estava a voltar e eu não podia separar-te deles. Eu só queria que fosses feliz e tu parecias genuinamente feliz. - Estiquei a mão para poder remover o franzido da sua testa mas acabei por a deixar cair. Baixei o olhar, agarrando no fio como sempre fazia quando as memórias se tornavam dificeis - Provavelmente vais querer isto de volta... - disse, pegando no anel que tinha pendurado junto com o H. Olhei para ele, questionando se ele iria dar o anel a Marlee. Tinha-o mantido comigo mesmo depois do casamento porque apesar de amar Mason, o que sentia por Heath era e sempre seria astronómico. Se eu pudesse voltar atras no tempo...

- E é o anel... - Calei-me, baixando o olhar. Era o anel mais bonito que eu alguma vez vira ou tivera. - Eu entendo. Eu tive um ano para lidar com a perda de Haven e tu tiveste cinco minutos. - Suspirei. - Heath... - olhei para ele quando se começou a afastar. Esperei que se virasse para mim e corri para ele, beijando-o. Um último beijo, levaria comigo este último beijo. - Eu nunca te vou esquecer. - Murmurei, encostando as nossas testas. - És e sempre serás o amor da minha vida. - Afastei-me para o deixar ir.

Fiquei parada no mesmo sitio enquanto o via a afastar-se. Tentei aguentar mas acabei por cair de joelhos no chão, sentindo o meu peito a apertar-se enquanto as lágrimas caiam. Eu tinha-o perdido novamente e desta vez seria para uma nova pessoa com quem ele faria uma familia. Não sei quanto tempo fiquei no meio da rua a chorar mas dei por uns braços familiares a abraçarem-me, Mason. Eu não o merecia, eu não merecia ninguém e apesar dele me fazer feliz, o meu coração só queria Heath aqui comigo a consolar-me. Não lhe respondi quando ele disse que deviamos ir para casa, não podiamos ficar ali. Levantei-me e segui-o até ao carro, indo em silêncio para casa.

Ora, aquele almoço não tinha corrido, de todo, como esperado. Parte de mim regozijava-se na nova posição em que nos encontravamos, em que era eu o parceiro de Mer e não aquele americano, que por sua vez fizera a asneira de se enrolar com Marlee. Não gostava de que isto trouxesse dor a America, mas por sua vez solidificava a questão de que eles os dois estavam acabados. Que Marlee tivesse sido capaz de amarrar o americano com um filho era algo que me surpreendera mas já ajudava o meu lado da história. Quiça, vendo a irmã começar uma família,  Mer também não fosse inspirada a desejar o mesmo... eu só podia aguardar e tentar convenca-la do mesmo. Um laivo de culpa deflagrou no meu peito pelo que estava  afzer, trocando a sua pilula por palcebo, mas acreditava piamente que só poderia trazer felicidade. 

Por muito que me tivesse desagradado ve-la sair sozinha com Heath, sabia perfeitamente que isto era algo que America tinha de fazer. Por isso é que, ao sair de casa dos Singer, segui em direcao ao cemitério e estacionei na saída que ela usava sempre. Sentia-me ansioso com o que se podia estar a passar mas também sabia que não me podia intrometer naquele momento. Simplesmente aguardei até ela entrsr no meu campo de visão e a ver desabar. O meu coração doía por ela. Tentei conforta-la mas Mer manteve-se silenciosa até chegarmos a casa. Preparei-lhe um chá - Foi um dia... difícil.  Queres falar? -  ofereci. Eu claro que queria saber como correram as coisas com Heath no cemitério mas nao a queria forcar nada. Esperava que ela  confiace em mim esse peso dado que eu era o único a saber da história completa.

Sentei-me no sofá com os joelhos junto ao peito em silêncio, embrulhando-me numa manta. - Obrigada - agradeci-lhe quando me ofereceu uma chávena de chá e apenas neguei com a cabeça, encostando-a às almofadas. Eu não queria falar e mesmo que o fizesse, não podia ser honesta porque ele era o meu marido e não apenas o meu melhor amigo. As nossas conversas sobre este assunto teriam de terminar, a única pessoa com quem poderia falar seria Marty porque ele sabia de Heath e sabia de Mason mas por enquanto guardaria tudo para mim, até conseguir processar tudo. Heath ficaria com Marlee e eu ficaria com Mason. Eu podia ser feliz

Suspirei e fiquei simplesmente a segurar no chá que arrefecia enquanto ele se sentava no sofá ao meu lado. Eu sei que era para me reconfortar mas agora só me deixava ainda pior. Eu não tinha intenções de deixar o sofá nas próximas horas, só quando fosse trabalhar e era isso que faria. Iria afogar-me em trabalho até que esta dor voltasse a ser apenas um incomodo em vez de me afogar

Passara maior parte da noite acordada, a pensar em tudo o que tinha acontecido, o que poderia e não poderia mudar. Assim que o sol nasceu, levantei-me e mudei de roupa para ir trabalhar, preparando um café forte para levar. Deixei um recado a Mason na bancada da cozinha e sai de casa, pronta a ir pedir turnos extra, o máximo que pudesse trabalhar durante as próximas semanas. Não conseguia lidar com os olhares preocupados de Mason em casa porque só iriam pesar ainda mais no meu peito.

Passaram-se alguns dias desde aquele fatídico domingo, quase duas semanas na verdade. Embora não pudesse dizer que estava a conseguir processar e lidar com tudo, como sempre, o peso da responsabilidade chamava-me para a realidade. Por muito que o sentimento de perda pesasse, tive que me puxar a mim mesmo do buraco negro em que estava e esforçar-me para enfrentar a realidade que era ter engravidado Marlee. 

Sabia que defia estar feliz, afinal de contas sempre quisera ter filhos, mas não conseguia. Não ainda. Ainda assim, fiz o meu papel, ou tentei, em mostrar que abarcaria com as consequências deste ato. Tinha voltado a casa dos Singer e tinha falado com Marlee, prometendo que a apoiaria e que estaria do seu lado. No entanto, quando lhe tentei explicar que tinha de por fim à nossa relação fisica, ela levou a mal e fingiu que não compreendeu. Vimos-nos poucos nos dias que se seguiram apesar das suas varias tentativas de entrar no meu quarto de hotel e me levar para a cama. Até agora, tinha conseguidi avitar tudo isso, assim como tinha evitado voltar a embebdar-me ou a neutralizar as minhas emoções com comprimidos. Foi então que decidi procurar ajuda psicológica também e havia apenas uma pessoa em quem confiava: a minha antiga terapeuta do hospital. Com a ajuda de  Marty consegui entrar na sua agenda e então duas vezes por semana comecei a ir ao hospital. De cada vez que o fazia era  furtivamente, esperando não me cruzar nem com America nem com Mason. 

Naquele dia, depois da consulta, não me fui embora imediatamente pois depois de muita conversa tinha convencido Marlee a deixar-me ir com ela a uma consulta pre-natal. Qual não foi o meu espanto quando a encontrei já fora do consultório,  com imagens de uma ecografia a mostrar o produto de uma fatidica foda há seis semanas. Fiquei claramente aborrecido por o ter perdido, mesmo que nao estivesse animado. Sentia que faltara ao meu dever apesar de ter sido ela a informar-me mal as horas. 

- Podes segurar aqui um instante? Bexiga de grávida... - Disse enquanto me largava a mala dela nos braços e desaparecia pelo corredor em busca de uma casa de banho, supunha. 

Desconfortável, sentei-me na sala de espera da ala da maternidade, esperando que Marlee regresasse depressa para eu podir sair dali o quanto antes. Peguei nas imagens da ecografia e observei a prova da vida que ajudara a criar. Uma vida inocente cuja vida eu não podia arruinar. Tinha que me tratar, que me recompor. Mas como?, pensei derrotado, e egoisticamente a pensar que preferia que fosse sido outra vida inocente com a qual eu pudesse ligar agora. Deu-me um arrepio gelado ao pensar que provavelmente fora ali, naquela ala precisamente, em que Haven viera ao mundo. 

Nas duas últimas semanas, tinha regredido o último ano. Pouco tinha ido a casa, andava a trabalhar imenso e evitava toda a gente como se fossem a peste. Mason tentava diariamente com que fosse dormir a casa, que comesse mais e que estava preocupado mas  eu não conseguia, ainda não. Tentei descansá-lo a dizer que estava bem mas as discussões sobre o meu estado fisico eram constantes e só me deixavam mais frustrada.

Estava novamente a trabalhar quando vi Marlee passar por mim, vinda da ala da maternidade. Assim que me viu, disse toda contente que estava ali para uma ecografia mas que tinha de ir porque Heath estava a sua espera. - Parabéns - congratulei e segui o meu caminho. Eu estava decidida a tentar esquecer o que tinha acontecido naquele almoço de familia da melhor maneira possível mas parecia ser impossivel. Suspirei, dando-me de caras com Heath sentado numa cadeira com a mala de Marlee nas mãos. Baixei a cabeça e tentei passar o mais despercebida possível para não o incomodar.

Ele parou a minha frente, fazendo-me parar para não ir contra ele. - Heath - tentei engolir as lágrimas, piscando os olhos para evitar que caissem. Engoli em seco, ficando presa no seu olhar. - Acabei de me cruzar com Marlee, ela foi naquela direção - apontei para o corredor de onde tinha vindo. Ele provavelmente sabia para onde ela tinha ido - Estás... Como estás ? - abracei os documentos contra o meu peito, mordendo o lábio para me controlar

As coisas de Marlee espalharam-se pelo chão e instintivamente baixei-me para o ajudar a apanhar as coisas - oh... uhm... - olhei para a ecografia e franzi o nariz, algo não estava certo - Parabéns pelas coisas estarem a correr bem - dei-lhe as coisas para a mão e levantei-me. Como eu gostava que ele também tivesse estado nas nossas ecografias - Se um dia tiveres curiosidade posso-te mostrar o que tenho da Haven, podes ligar-me e eu levo-te lá a casa. Isto é se achares que te vai ajudar ou tu queres.. - dei um passo atrás porque sentia todo o meu corpo eletrizar com a sua proximidade

Ambos nos afastámos quando Marlee se meteu entre nós e agarrou o seu braço - Adeus... - murmurei. Eu não iria a mais almoços de família, não nos próximos tempo até o meu coração estar mais estável. Continuei o meu dia, acabando por mandar mensagem a Mason para ir para casa porque eu iria ficar a trabalhar horas extra e não sabia a que horas voltaria a casa.

Não conseguia tirar America da minha cabeça. Nem com terapia, nem com extremo exercício fisico, e não me queria perder outra vez em bebedeiras e drogas. Estava a tentar ser melhor, estar melhor para enfrentar as minhas responsabilidades mas ao mesmo tempo sentia-me preso à minha nova realidade: a de Mer tão perto mas tão longe e inacessível, a da minha mãe com uma traição pendente cque me tinha feito cortar o contacto, e Marlee a tentar establecer o seu controlo sobre mim por muito que eu esclarecesse que neste momento nao tínhamos uma relação,  apenas a responsabilidade de um filho em comum. A minha vida continuava uma merda.

A minha terapista bem me tentava puxar do buraco negro em que continuava cheio de a amargura e dor. Ela foi rápida na sua análise que era Haven que me afetava mais e sugeriu tentar encontrar uma resolução possível aí. Levou vários dias até ganhar coragem e enviar uma mensagem a America a cobrar a oferta que ela me propusera de ver os poucos pertences de Haven.

Ter visto Marlee com Heath tinha-me afetado mais do que deixava passar. Continuava a trabalhar mas tinha evitado a ala da maternidade ao maximo para evitar cruzar-me com eles e recuperar a minha sanidade mental. Fiquei surpreendida quando recebi mensagem da parte de Heath a questionar se nos podíamos encontrar para falar de Haven. Combinei com ele a uma hora que sabia que Mason nao estava, ficando mais nervosa - Olá.. - sorri e deixei-o entrar - fico contente por me teres mandado mensagem