Boston

O abraço de Catherine foi inesperado. Tanto que fiquei sem saber como reagir. Por um lado era uma completa estranha, mas por outro e ao que parecia, ela for a alguém que eu amara e que sofrera com a minha perda. A minha hesitação em fazer algo foi um erro, percebi imediatamente quando America abandonou a sala. Afastei, então, Catherine gentilmente e encarei-a – Não imagino como foi e lamento seriamente que tenham tido de passar por isso – O que mais é que podia dizer? – Acredito que seja um choque verem-me novamente e que para ti seja um choque que…bem, que eu regresse comprometido.

Observei a careta que ela fez. Vi uma lágrima solitária cair no seu rosto – Foi tão duro, Heath. Achei que te tinha perdido para sempre. A minha vida nunca mais foi igual, houve sempre um vazio por preencher – Voltou a abraçar-me e desta vez tombou a cabeça contra o meu ombro. Eu estava desconfortável, mas ao mesmo tempo não me sentia bem em afastá-la quando ela estava neste modo – Saber que estavas vivo foi a maior alegria, mas chegaste aqui com ela. É um golpe devastador. Tínhamos um futuro todo planeado. Voltei a ansiar por ele.  Ama-la?

De nada valia mentir, pois não? Sentia-me pessimamente – Amo, Catherine. Tenho uma divida muito grande com a America. Foi ela que tratou de mim, que me acolheu. Eu amo-a e estamos numa relação séria – Que disso não houvesse dúvidas.

Sentia-me a entrar numa espiral de pânico e não sabia ao que se devia. Se era de estar no outro lado do mundo ou se estava tudo relacionado com Heath mas eu devia ser forte, eu precisava de ser forte para poder estar ao lado de Heath e apoia.lo nesta jornada. - Cinco coisas que consegues ver - disse entre soluços e lagrimas para me tentar acalmar, procurando objetos para identificar - Quatro coisas que consigo tocar - repeti - Três coisas que consigo ouvir. Duas coisas que consigo cheirar e Uma coisa que consigo saborear - disse, respirando fundo, tentando parar as lagrimas. Sentei.me no chao até conseguir que as lagrimas parassem e a minha cabeça parasse de fazer o maior filme de sempre. O Heath ama-me. O Heath ama-me.. A mim. Era tudo o que precisava para seguir em frente. Lavei o rosto, tentando disfarçar o quao vermelha as minhas bochechas estavam com um pouco de po que tinha na mala de mao, já os olhos não podia fazer nada. Voltei para a sala mas acabei por não entrar, deixando.me ficar no corredor para lhes dar alguma privacidade uma vez que não sabia onde podia ir. Talvez pudesse voltar para o carro.

Conseguia perceber o ar desapontado de Catherine mas mais valia ser honesto agora do que não esclarecer tudo à partida certo? Fazia-me questionar o que mais poderia descobrir que não fosse fácil de lidar. – Se for pedir demasiado eu entendo, mas quero perguntar-te na mesma se podemos ser amigos? Obviamente fazias parte da minha vida e não é algo que queira perder – Era algo que estava determinado a fazer. Mesmo que não me lembrasse das pessoas queria mantê-las na minha vida pois ainda tinha a esperança de que a memória regressasse e odiaria ter deitado a perder amizades e ligações.

Catherine voltou a aproximar-se e pousou a mão no meu braço – Querido Heath, por muito difícil que vá ser ver-te com alguém que não comigo, ter-te de volta é um milagre em si mesmo e é claro que não me vou afastar. Conta comigo para o que precisares, tal como nos bons velhos tempos, mesmo que não te recordes – Avançou para mais perto e beijou-me o rosto amorosamente – Talvez seja melhor ir-me embora por agora. Deves estar cansado e a tua… hum, de qualquer das formas, deixa-me guiar-te até ao teu quarto e depois vou-me embora – Agradeci e segui atrás dela depois de olhar em volta e perceber que Mer não estava de volta. Iria ver dela de seguida.

Acabei por sair pela porta da frente o mais silenciosamente possivel para apanhar um pouco de ar fresco. Estar fechada a ver a sua noiva a fazer-se à descarada e Heath tão alheio ao que ela estava a irritar-me ainda mais, fazendo com que a minha dor de cabeça se intensificasse ainda mais. Sentei.me nos desgraus a entrada da sua casa, vendo as pessoas a passar e a olhar para mim, provavelmente perguntando-se quem era a maluca que estava à porta dos Prescotts. Well, só a namorada do filho desaparecido mas o que é que isso interessava naquele momento ? Nada.

Olhei por cima do ombro quando a porta se abriu, vendo Heath sair com Catherine. Sorri para ambos, desviando caminho para ela passar. - Adeus Catherine, prazer em conhecer-te - despedi-me com um aceno. Esperei que Catherine tivesse fora de vista para deixar que Heath me desse a mao, mesmo assim não foi algo que o fiz muito convictamente caso a sua mãe viesse ter connosco - E o que achaste do espaço ? - perguntei, tentando soar casual. - Queres que eu vá ver o teu quarto ? Claro, vamos lá.

Ele guiou-me até ao andar de cima, onde eu ainda não tinha ido, mostrando.me um quarto que quase parecia de catálogo. Não me sentia à vontade para andar a explorar a sua casa, apesar de ir passar algum tempo naquele espaço - Calculo que tenha sido arrumado muitas vezes ao longo do tempo - fui olhando para as fotos dele ao longo dos anos, das várias medalhas que ele tinha acumulado - Honestamente nunca tinha pensado em como seria o teu quarto, quando penso no teu quarto penso no nosso quarto em Londres - expliquei.lhe - mas gosto da decoração, é simples e masculina

Não era estranho de que não houvesse uma mínima parte do meu cérebro que não reconhecesse alguma coisa naquele espaço? - Para todos os efeitos o quarto de Londres é o meu quarto, o nosso quarto - Apesar de estar ali e saber que aquele espaço me pertencia, ou pertencera, não mudava a maneira do sítio a que chamava casa. Talvez também fosse cedo para sentir uma conexão emocional a esta casa. - Sou um clichê americano - Comentei ao ver que os troféus e medalhas se deviam ao facto de ter sido nomeado o melhor quarterback do secundário. Sentei-me na cama e estendi a mão para America para que juntasse a mim - Ainda só chegámos aqui há uma hora e já esta a ser... de loucos?

Claro que ele era um cliche americano, bastava olhar para ele; para a sua beleza e para o seu fisico e dava para perceber que quando ele fora mais novo, teria sido o rapaz que todas queriam namorar. Aceitei a sua mao e sentei.me ao seu lado - uma longa hora.. - murmurei. Tinha a sensação que estavamos ali a uma eternidade e estava pronta para voltar para casa mas não podia pedir isso, tinha de lhe dar a oportunidade de conhecer a sua familia e ele nao iria querer ficar se eu me fosse embora - Já sabiamos que nao ia ser fácil, são mudanças inesperadas - disse.lhe - Pode ser que as coisas melhorem com o tempo - no tempo que tivera sentada na rua, a apanhar ar, tinha pensado se era melhor eu ficar num hotel ou alugar um quarto algures para ele poder estar a vontade mas como seria a sua reação quando lhe dissesse ? - Heath.. - ia para lhe dizer que não iria ficar a dormir ali quando a sua mãe bateu a porta. Afastei.me dele, sorrindo para a Sra. Prescott

- Uma longa hora - Concordei. Coloquei o meu braço em redor dos seus ombros e aproximei-a de mim. - São informações inesperadas, mas ainda nada mudou - Quer dizer, pelo menos nada que fosse paradigmático. O que faria com a informação é que determinaria as coisas. Senti de imediato a sua falta quando ela se afastou segundos antes de a porta abrir e revelar a minha mãe agora muito mais composta.

- Querido, e America - Dava para perceber que ela ainda se estava a habituar a esta presença inesperada - Já vi que encontraste o teu quarto. Eu mandei a empregada prepará-lo mas só este. Não sabia que virias com alguém. O quarto de visitas está com a cama por fazer, mas quiçá queiras lá ficar America - Ofereceu ela mas eu apressei-me a intervir 

-  Mãe, creio que não será preciso. Esta cama é larga o suficiente para os dois - Ao ver o seu ar chocado não compreendi qual era o problema, mas ela apressou-se a clarificar e eu fiquei surpreendido pelo seu conservadorismo.

Fiquei um pouco admirada com a reação da sua mãe por ele sugerir que nós dormíssemos juntos. Heath já não tinha 16 anos e nós viviamos juntos, podiamos não ser casados mas quase que o eramos. Não quis responder mal até porque a minha intenção não era ficar ali de qualquer maneira. - Obrigada Sra. Prescott, eu não queria incomodar de todo. Eu estava a falar com Heath sobre isso mesmo e ia.lhe dizer que a minha intenção era procurar talvez um pequeno quarto para alugar ou algo barato aqui perto para não vos incomodar enquanto vocês se voltavam a reconciliar. Não era nossa intenção ofender a senhora - apressei.me a dizer - Pois não, Heath ?

Por um segundo achei que deviam estar as duas loucas. A minha mãe por proibir que ficássemos no mesmo quarto e America por achar melhor ficar fora da casa, separada de mim. Virei-me para a minha mãe - Não queremos ofendê-la, claro que não. Mas mãe, eu e a America já vivemos juntos. É sério  - Depois virei-me para America - Onde tu fores eu vou. Não há outra hipótese. Mas preferia realmente que não tivessemos de nos afastar - Eu queria estar perto da minha casa, da minha família e amigos, daquilo que antes fora meu, mas precisava de America a meu lado.

- Se calhar podemos falar disto quando tivermos os dois a sós - murmurei.lhe, pondo a mao sobre a sua para o acalmar - Eu não quero afastar.te da tua mãe, não é de todo a minha intenção. Sra. Prescott então se não se importar, se eu ainda puder, eu fico com o quarto de hóspedes e o Heath fica aqui. Não há problema - apertei a mao de Heath na esperança que ele percebesse que depois falariamos sobre isso.

Percebi o sinal de America mas esperava que ela não interpretasse o meu silêncio como uma aceitação. Ao mesmo tempo também não queria começar com o pé esquerdo com a minha mãe e perturbá-la. 

- Claro, vou deixar lá a roupa da cama - Respondeu a minha mãe - Esperava também que pudéssemos falar, filho, mas em privado. Encontra-me no jardim daqui a pouco, sim? - Voltou a deixar-nos. 

- America, que ideia foi essa de saíres daqui? - Não entendia realmente.

- Obrigada Sra. Prescott - agradeci - Eu depois trato de tudo quando o Heath for falar consigo - sorri e ela acabou por nos deixar sozinha. Suspirei, sabendo que ele não ia aceitar de todo o que eu tinha dito ou que ainda ia chatear a sua mãe até aceitar que nós tivessemos juntos - Ainda não percebeste que ninguém sabia que tu vinhas acompanhado e não ficaram agradadas com a minha presença ? - perguntei.lhe - Eu não quero estragar esta experiencia para ti e para a tua mãe e por muito que me queiras aqui contigo, não ias morrer se eu tivesse a cinco minutos daqui - expliquei.lhe - Mas se ela acha melhor estarmos em quartos separados, ficamos em quartos separados. Não comeces já a tua relação com a tua mãe mal por minha causa - se bem que eu achava que fosse algo mais do que apenas "manter o decoro"

Não gostava nada de estar a ser interseto por várias dinâmicas pessoais – por um lado desconhecia o modus operandi da minha mãe e, por outro, tinha um pressentimento de não conseguir antecipar como America se sentia ou como ira agir. Isto deixava-me nervoso. Eu queria-nos a todos na mesma página e o mais rápido possível, fosse quando isso fosse. – Sim, Mer, percebi, mas não sabia que isso seria um problema – Ainda por cima com uma casa tão grande. – Eu preciso de ti. Eu preciso de ti comigo – Era a mais pura das verdades. Não a queria imaginar em mais lado nenhum e sozinha ainda por cima. – Não gosto dessa ideia – Mas percebi que, pelo menos por enquanto, teria de ceder nisso – Enquanto não a conseguir convencer da patetice que isto é e tudo ficares no outro quarto, terei apenas de arranjar maneira de me escapulir à noite sem que ninguém perceba – Sorri levemente.  

- Eu mesmo que não esteja aqui contigo, nunca te deixarei. Estarei sempre aqui - pus a mao sobre o seu coração. - Estou só no andar de baixo - sorri e beijei os seus labios, rindo.me - vais mesmo armar.te em adolescente rebelde e escapar do teu quarto para ir ter comigo ? ainda te vais meter em problemas - abracei.o, enterrando o nariz no seu pescoço - eu não valho apena tanto problema

Ela podia dizer aquilo e eu entender o seu significado, mas não me convencia. Não naquela situação - Comigo comigo - Reforcei. Não queria que ela fosse a lado algum. - Se calhar serão antigos hábitos. Se calhar fazia isso para ir a festas a meio da noite - Gozei. Fazê-lo-ia novamente. - Meu amor, tu não fazes ideia do teu valor - Beijei o topo da sua cabeça - E é uma das razões pelas quais te amo.

Agarrei no seu rosto e beijei os seus lábios - Eu também te amo muito mas não quero que arranjes problemas com a tua mãe, já não estamos em Londres. As regras aqui são diferentes, tenta segui-las ao início antes de começares a fazer exigências, como dormirmos juntos - pedi.lhe - agora vai falar com ela, que eu vou tentar ver onde é o meu quarto.

Abanei a cabeça perante a sua explicação. Sabia que ela tinha razão mas isso não significava que gostasse. Suspirei por isso mesmo. A custo lá me separei dela - Até já - Despedi-me e segui para o piso térreo até encontrar uma porta para o jardim. Tal como o resto da casa, era um espaço muito agradável. Aproximei-me da mesa onde a minha mãe estava sentada a fitar o vazio. Quis falar-me de imensas coisas, mas sobretudo quis saber tudo o que eu me lembrava e de como tinha sido a minha vida até ali. Estava incrédula com a minha história e lamentava que não me tivesse recordado da minha identidade mais cedo. Depois, necessariamente, a conversa encaminhou-se para a minha vida. Descobri que sempre quisera ser militar como o meu pai, tendo estado na Academia de West Point, seguindo directamente para as Forças Armadas, ramo dos Marines, tal como meu pai também. Uma vez completado a minha iniciação, alistei-me para a minha missão ainda com dezoito anos. Iraque. Um anos depois uma segunda missão. Afeganistão. De acordo com a minha mãe foi no regresso desta que pedira Catherine em casamento, quando ela fora para Boston College. Éramos highschool sweethearts,  segundo ela. 

- Foi quando te pedimos para não te alistares tão cedo novamente. Estavas a tirar uma formação em engenharia  electromecânica. Gostava de te ver em casa. Tu e o teu pai estavam sempre ausentes naquela altura. E foi então que... - A voz dela quebrou e soluçou, mas conteve as lágrimas. A mim foi como que levasse um choque eléctrico e uma descarga de memórias assumiu-se inesperadamente. Não sabia como mas lembrava-me de todos os detalhes do dia em que soubéramos que o meu pai tinha morrido em combate no Afeganistão. Pior do que me lembrar, senti tudo novamente, era como se o tivesse perdido novamente. Fui eu quem naquele momento não conseguiu conter as lágrimas. Lembrava-me tão bem do amor e admiração que sentia pelo meu pai, o meu herói. E lembrava-me que fora para o vingar que no próprio dia ainda me alistei novamente para a minha terceira missão... da qual só regressava agora.

Descemos os dois e ele seguiu para o jardim enquanto eu fui explorar o primeiro andar da sua casa. Depois da entrada, havia a sala onde tínhamos sido recebidos; um escritório em tons escuros com um ar bastante sério e sombrio, provavelmente pertencia ao seu pai; uma cozinha enorme digna de revista com tudo de melhor; a casa de banho onde eu tinha estado mais cedo e que provavelmente seria a que eu iria usar e ao lado, o quarto que iria chamar de meu nos próximos tempos.

A diferença entre este quarto e os quartos do andar de cima, era como a noite do dia. Este quarto era simples e mais pequeno, ao lado de uma sala de arrumos, apenas com uma cama de corpo e meio e uma pequena cómoda para colocar roupa. Um quarto que tinha sido deixado de lado, tal como eu. Olhei para os lençóis e a colcha em cima da cama e suspirei, provavelmente tinham sido ali deixados para eu poder fazer a cama. Depois de a ter feito e aberto a pequena janela para poder entrar um pouco o ar, deixei a minha mala aberta no chão e sentei-me ao seu lado, encostando as costas à cama. Fiquei a olhar para a mala e como não sabia quanto tempo ficaria ali, decidi não tirar a roupa da mala e acabei por mandar mensagem aos meus pais e a Mason a avisar que a viagem tinha corrido bem.

Depois de algum tempo a olhar para a parede, fiquei a ponderar se devia ir à procura dele mas não queria interromper a conversa com a sua mãe. Abracei os joelhos. Como é que seria a nossa vida daqui para a frente ? Será que ele se lembraria da sua família ? Do seu tempo de adolescente ? Da sua relação com a sua mãe e até com a sua noiva ? E se quisesse ficar com ela no fim ? Tentei afastar esses pensamentos da minha cabeça antes que começasse a entrar numa espiral. Não sabia como seria daqui para a frente mas, independentemente das decisões que ele tomasse, eu iria apoiá-lo em tudo.

A amnésia era uma condição tramada. Por um lado, fazia-me sentir a perda de tudo o que eu não me lembrava. Por outro lado, quando finalmente me recordava de algo, senti-o com um impacto tal que era como reviver a própria memória novamente. Era uma bênção quando se tratava de boas memórias e era uma maldição quando o oposto acontecia. Estava a ser um desses momentos, o pior de todos que sentira, aliás. Tentei explicar à minha mãe o que sentia, como doía como se o meu pai tivesse morrido naquele próprio dia, mas não creio que ela entendesse verdadeiramente. Por alguma razão era como se ela não entendesse a fundo o que verdadeiramente significava o facto de eu estar amnésico e percebia pelo seu olhar e pelas suas perguntas que havia uma presunção sua de que eu sabia tudo, que todas as minhas memórias estavam à superfície e era como se fosse eu que as estivesse a negar. Tudo aquilo deixa-me cansado, ainda para mais no dia de viagem que tivera. Pedi-lhe permissão para me ausentar, pelo menos até ao jantar que ela me informara ser encomendado do meu restaurante favorito, uma espécie de BBQ que eu, para sua desilusão, não me recordava.

Queria fechar-me numa sala escura e ficar a sós com os meus pensamentos recém-descobertos mas também sentia necessidade de os partilhar com quem me entenderia. Com a única pessoa que entendia. Descobri o seu quarto e encontrei-a sentada no chão, também ela pensativa. Coloquei-me na mesma posição. Pela janela dava-me conta de que já entardecia. – O meu pai está morto – Dizê-lo abriu novamente um buraco no meu peito. As lágrimas começaram a cair novamente, mas deste vez não eram silenciosas, antes ruidosamente acompanhadas por soluções, pelos movimentos involuntários do meu corpo. – Eu lembro-me disto tão nitidamente como se fosse hoje. Doi como se fosse hoje.  

Eu não precisava de olhar para trás para saber que Heath tinha descoberto o meu quarto. Ele fechou a porta e sentou-se ao meu lado silenciosamente. Queria perguntar-lhe como a conversa com a sua mãe tinha corrido mas não parecia ter corrido muito bem, pelo menos não para ele. Peguei na sua mão e esperei que ele falasse - Oh meu amor - puxei.o para se deitar no meu colo e abracei-o - Desculpa que estejas a sentir isso - queria protegê-lo dessa dor. Eu sabia o que era perder alguém que amava-mos, perder um familiar tão direto como um pai, alguém que ele devia admirar tanto doia ainda mais. Abracei-o com força, deixando-o chorar a perda do seu pai. Queria ter força para que pudesse evaporar a sua dor e para que pudesse levá-lo dali e simplesmente tivéssemos em casa, onde tudo estava bem mas isto fazia parte do processo. - Agora dói mas vais ver que dias melhores virão e vais recuperar memórias em que vocês eram felizes porque eu sei que ele amava-te muito e não te devem faltar memórias dessas. Aposto que te vais lembrar de quando eras pequenino e vocês brincavam no vosso jardim, e quando ganhaste o maior troféu que tens no quarto, ele foi o que gritou mais alto porque tu eras o filho dele e eras o orgulho dele - beijei a sua cabeça, tentando confortá-lo - e essas memórias vão gritar mais alto e já não vai doer tanto - continuei abraçada a ele e deixei.o chorar e aliviar o seu coração pesado até que a dor melhorasse um pouco.